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Relação rejeita afastamento de Carlos Alexandre do caso Sócrates

11 out, 2016 - 16:22

A defesa de Sócrates alegou que Carlos Alexandre tinha proferido declarações que configuram uma quebra de imparcialidade. O tribunal discorda e diz que nada indica que as palavras do juiz tinham por alvo o ex-primeiro-ministro.

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O Tribunal da Relação de Lisboa rejeitou esta terça-feira o pedido de afastamento do juiz Carlos Alexandre apresentado pela defesa de José Sócrates, por o considerar “infundado”.

“O requerimento de recusa apresentado não demonstra que se verifica motivo sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a imparcialidade subjectiva do juiz”, refere o acórdão da Relação.

A decisão teve como relator o juiz desembargador Cid Geraldo e como adjunta Ana Sebastião.

Este incidente de recusa foi apresentado pela defesa do ex-primeiro-ministro José Sócrates na sequência de declarações do juiz Carlos Alexandre em entrevista à SIC, a 7 de Setembro, em que o magistrado afirma não ter dinheiro em contas de amigos, nem contas bancárias em nome de amigos.

A defesa de Sócrates alegou que esta, entre outras declarações, configurava uma quebra de imparcialidade do juiz Carlos Alexandre, que acompanha o inquérito Operação Marquês, no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC).

No acórdão, o Tribunal da Relação considerou que a entrevista do juiz Carlos Alexandre “consubstancia um percurso de vida referente às circunstâncias da sua vida pessoal, familiar e patrimonial, bem como do seu percurso profissional, pretendendo o juiz visado, quando se refere às horas extraordinárias e os fins-de-semana para ganhar algum dinheiro, fazer uma contraposição entre a sua pessoa e a de terceiros, fazendo a comparação a outras formas de detenção de riqueza, de forma oculta, que são apontados em sede de tipologia, por diferente literatura, e com as quais o juiz tem sido confrontado em muitos processos”.

Para a Relação de Lisboa, Carlos Alexandre “pretendeu tão só significar que os seus rendimentos são aqueles que estão à vista e em seu nome e que não lançou mão de qualquer forma de ocultar outros rendimentos, de que efectivamente não dispõe”.

Considerou ainda a Relação que as expressões “não tem amigos pródigos”, “não tenho dinheiro em nome de amigos”, “não tenho contas bancárias em nome de amigos”, proferidas pelo juiz, não visaram “assacar ao requerente (José Sócrates) como judicialmente assentes e comprovados os males e culpas que bem entendeu” e “não são demonstrativas da evidência do entendimento” de ser a Sócrates que “se estava referir”.

“Antes, consubstanciam um desabafo do senhor juiz visado perante os cortes salariais sofridos desde 2010, de que não dispõe de outros rendimentos, senão daqueles que estão à vista e em seu nome, não tendo como objectivo qualquer ataque pessoal ou qualquer alusão directa ao comportamento do requerente, pois, em momento algum”, o juiz Carlos Alexandre “afirmou ter o requerente (Sócrates) dinheiro em contas de amigos”.

A Relação diz também não vislumbrar “nenhum pré-juízo condenatório, nem violação grosseira do especial dever, como juiz, de ser imparcial na avaliação objectiva, isenta e descomprometida da prova, nem violação do respeito pelo princípio da presunção de inocência, uma vez que a alegada insinuação carece de demonstração”.

A decisão concluiu que não estão “demonstradas circunstâncias que possam revelar a quebra de imparcialidade subjectiva que, sendo do foro íntimo do juiz, tem de ser presumida até prova em contrário” e que “o melindre do requerente (José Sócrates) não pode constituir fundamento plausível, sério e justificadamente grave que inculque, sem qualquer reserva, dúvida sobre a imparcialidade do juiz visado”.

A Operação Marquês conta com 12 arguidos, entre os quais José Sócrates, que esteve preso preventivamente mais de nove meses, tendo esta medida de coacção sido alterada para prisão domiciliária, com vigilância policial, a 4 de Setembro de 2015 .

Desde Outubro que está em liberdade, embora proibido de se ausentar de Portugal e de contactar com outros arguidos do processo.

Sócrates foi detido a 21 de Novembro de 2014, no aeroporto de Lisboa, indiciado pelos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para acto ilícito.

[Notícia actualizada às 17h53]

Comentários
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  • António silva
    12 out, 2016 Agueda 22:14
    Parabéns ao tribunal da relação pela decisão ora tomada acerca das pretensões de Socrates
  • fanã
    12 out, 2016 aveiro 17:14
    O Super Juiz deveria ter juízo, é eticamente reprovável dar este género de entrevista com tais alusões, compete-lhe apenas levar o processo até as ultimas consequências com discrição e sigilo !
  • Otário cá da quinta
    12 out, 2016 Coimbra 11:54
    ISIDORO FOITO. Supomos que o sr. I.Foito foi um daqueles que andou lá com os cachopos da Casa Pia e está a ser investigado e eu sou o JUIZ e entretanto alguém me faz uma entrevista e a conversa segue um rumo, em que eu digo : PORRA , MAS EU NÂO SOU PANEL++++ ! O Sr. acha , que estou a me referir a si? O Juiz, disse e bem com certeza que não tem amigos ricos, tão bonzinhos para que o encham de dinheiro. Olhe meu caro sr., espero que este país, consiga encontrar uma JUSTIÇA DIGNA ( o que é difícil, o dinheiro fala mais alto ), porque se o sr. tiver uma bocadinho de MORAL e respeito pela verdade, vê bem o que se tem passado nestes últimos 40 anos neste país e nas cadeias, pelos vitos, só por lá estão pilhas galinhas.
  • graciano
    11 out, 2016 alemanha 19:41
    estao indiciados sao crimes menores nao sao presos depois acontece o que aconteceu hoje individu o perigoso mata e atinge soldados da gnr e civis esta a vista que socrates tem por detras dele muita gente no ps para o inocentar agora lanca um livro em breve se candidatara a nobel da astucia e sera condecorado e a foto dele colocada nas escolas no lugar dos crucifixos que ele mandou retirar
  • antonio
    11 out, 2016 Portugal 19:40
    A política é um meio sujo. Os políticos têm medo da justiça. Porque será? Há poucas semanas até o louçã do bloco criticou o juiz Carlos Alexandre.
  • Balthazar
    11 out, 2016 Faro 19:28
    De acordo com a decisão e acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa.
  • isidoro foito
    11 out, 2016 elvas 19:09
    mas os senhores juízes da relação são analfabetos e não sabem ler e interpretar o que está escrito na entrevista ou então não têm ordem para falar , como eu milhões de portugeses ouviram o sr juiz dizer que não tem amigos ricos nem tem contas de amigos com certeza que não se estava a referir a mim , pois não me conhece. Vamos ver agora o que faz o supremo tribunal de justiça , se fizer outra leitura essa srª juíza podeenrrilar a esteira e ir para o desemprego se a leitura for a mesma , então nesse caso la se vai a credibilidade da nossa justiça que já não é quase nenhuma , vamos ver o que acontece ao desembargador Rangel.
  • Otário cá da quinta
    11 out, 2016 Coimbra 19:06
    VÁ LÁ ! Eu pensei que era o fim da carreira deste homem.
  • José Proença
    11 out, 2016 Cstelo Branco 18:46
    É vergonhoso que haja tanta intromissão nos meios judiciais, que são um poder, e que devem estar isentos de pressões vergonhosas como a que está a ser feita sobre este juiz. É também vergonhoso que haja um arguido neste processo, que está em liberdade e que tenha a possibilidade de conspirar ao ponto de afirmar que a sua detenção foi movida por processos politicos. Não será também politica esta sua afirmação? Com que direito anda de terra em terra a conspirar contra a justiça e invocar a sua inocência? Esta situação não deveria, não +poderia estar a acontecer. Se está em liberdade, deveria de ter limitações. Não houve julgamento, e, até prova em contrário é considerado inocente. Será?
  • J. Mendes
    11 out, 2016 Leiria 18:08
    As manobras de secretaria, não ilibam o que é de mais evidente. Congratulo o Juiz Carlos Alexandre.

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