12 out, 2016 - 16:03 • Rosário Silva
O ex-presidente da República Jorge Sampaio mostrou-se indignado com o com o acolhimento dado aos refugiados na Europa. “Temos exemplos que são absolutamente indecentes”, alertou.
“A incapacidade política dos líderes europeus em pôr em prática uma política atempada de acolhimento a refugiados explica, pelo menos em parte, que se tenha chegado à situação actual, absolutamente inimaginável, se pensarmos que a União Europeia é uma comunidade de valores no respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais”, referiu.
Jorge Sampaio falava quarta-feira no decorrer do ciclo de conferências “Direitos humanos e desenvolvimento sustentável”, organizado pela Universidade de Évora.
“A protecção dos refugiados não é opcional, nem pode ser à la carte. Não é um restaurante onde a gente escolhe o bife ou a posta de pescada”, acentuou o ex-Presidente da República perante uma plateia de alunos onde se encontravam quatro alunos Sírios que estudam, actualmente, nessa instituição.
“Refugiados no Mundo e a criação de um mecanismo de resposta rápida para a educação superior nas emergências”, foi o tema que levou ao Alentejo, o antigo chefe de Estado.
“Temos hoje exemplos que são absolutamente indecentes”, disse indignado e confessando que as pessoas e ele próprio “sente-se mal quando vê o arame farpado na Hungria”.
Fenómeno não vai abrandar
Sampaio falou da dimensão e admitiu a complexidade de um “fenómeno” que, garante, “não vai abrandar”.
“É uma situação que não é comparável. Em 1950 tínhamos um milhão de refugiados. Actualmente, mais de 70 milhões de pessoas são forçadas a deslocar-se”, sublinhou.
Jorge Sampaio defende uma nova visão estratégica e respostas inovadoras para um problema que deve ser atacado pela raiz.
“Para além da agenda humanitária e das questões dos refugiados, há que investir muito mais na solução política das crises” acrescentando que se assiste a algumas, mas também a “impasses em torno de se encontrarem soluções políticas com o mínimo de estabilidade para além de 48 horas”.
Na presença de estudantes, o antigo chefe de Estado recordou a criação por sua iniciativa da Plataforma Global de Apoio ao Estudantes Sírios.
“A ideia é muito simples”, explicou. “Não precisamos de reinventar a roda pois as universidades estão habituadas à mobilidade académica, a receber estudantes estrangeiros e a participarem em intercâmbios”.
Mais de 78 milhões de deslocados
Falando da necessidade de haver mecanismos, vontade mas também recursos financeiros disponíveis, lembrou que em 2013 quando a plataforma iniciou o seu programa “tinha 20 euros com os quais abriu um fundo de emergência”. A resposta deve ser, contudo, mais rápida e Sampaio tem vindo a defender junto da comunidade internacional a criação de um mecanismo de resposta rápida para o ensino superior em situações de emergência.
Para justificar a criação deste mecanismo, o ex-Presidente deu como exemplo a situação na Síria, “onde 25% dos jovens concluíam o ensino secundário e tinham acesso ao ensino superior, antes da guerra”.
Segundo dados do ACNUR, adiantou, “quando sabemos que apenas 1% dos refugiados é admitido no ensino superior damo-nos conta do hiato gigantesco a colmatar e se nada se fizer haverá gerações inteiras perdidas no que respeita aos diplomados universitários.”
Actualmente, no mundo, existem 37 focos de conflito, há 78,9 milhões pessoas entre deslocados e refugiados e a duração média de permanência num campo de refugiados varia entre os 17 e os 20 anos.