28 nov, 2016 - 19:28 • Henrique Cunha
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O bastonário da Ordem dos Médicos mostra-se surpreendido com o facto de um candidato ao curso de Comandos ter sido aprovado apesar de lhe terem sido diagnosticadas duas hérnias discais.
Em entrevista à Renascença, José Manuel Silva estranha que um militar com problemas na coluna tenha integrado um treino tão duro.
“Desconheço completamente qual é o tipo de bateria de testes que é feita, qual é a valorização dos resultados, qual é o algoritmo de decisão e, portanto, estou a comentar um processo que não conheço. Eu diria que, pelos casos noticiados, o único que me coloca alguma surpresa é o facto de para um treino físico violento, em que nomeadamente se transporta às costas cargas bastantes pesadas em situações extremas, seja seleccionado uma pessoa que tenha duas hérnias”, afirma o bastonário.
José Manuel Silva não valoriza o facto de outro militar, que só foi excluído do curso depois das mortes de Hugo Abreu e Dylan Santos, ter sido diagnosticado com um tumor ósseo na bacia. O bastonário sugere que se possa tratar de um tumor benigno de fácil remoção.
O Hospital das Forças Armadas diagnosticou, a 6 de Junho deste ano, o tumor ósseo na bacia ao candidato ao 127.º curso de Comandos, segundo a ficha clínica a que a Renascença teve acesso. No dia 21 de Julho, este candidato foi indicado para remoção do tumor. Tudo antes do início do curso de Comandos.
O Hospital das Forças Armadas diagnosticou a este candidato um osteocondroma. E foi a detecção deste tumor benigno pelo Exército que levou, mais tarde, à sua expulsão do curso.
A Ordem decidiu suspender o inquérito aberto ao médico dos Comandos que está a ser alvo de investigação judicial, na sequência da morte Hugo Abreu e Dylan Silva, candidatos do 127º curso de Comandos.
José Manuel Silva explica que a Ordem vai aguardar pelos resultados da investigação da Polícia Judiciária, do Ministério Público e do próprio tribunal, para agir em conformidade.
“Sempre que há processos que exigem investigações que a Ordem não tem competência, nem meios para investigar, aquilo que nós fazemos é abrimos um inquérito. Mas depois suspendemo-lo de modo a que não prescreva. E temos que aguardar que as entidades competentes façam o seu trabalho, dêem como provadas as circunstâncias que tiverem sido apuradas. Depois, só em face desses resultados, é que podemos reabrir os nossos procedimentos para, do ponto de vista estritamente clínico, fazermos a nossa avaliação específica e aplicar a pena correspondente se for eventualmente caso disso”, refere José Manuel Silva.
Cinco candidatos foram afastados do 127.º curso de Comandos, que terminou na sexta-feira, por problemas graves de saúde. A Renascença teve acesso aos processos de exclusão. Alguns militares apresentavam manifestações de doenças graves, anteriores ao início do curso.