04 jan, 2017 - 08:48
Passou nos ensaios iniciais o primeiro medicamento oncológico português para o tratamento do cancro avançado na cabeça e no pescoço.
A terapia começou a ser desenvolvida na Universidade de Coimbra e foi testada no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, onde foi bem tolerada pelos 14 doentes que participaram nos testes.
"Verificámos que o tratamento com este medicamento de tumores malignos da cabeça e pescoço (espinocelulares) revelou elevada segurança, uma vez que os efeitos colaterais e adversos foram raros, não foram severos e revelaram-se de fácil controlo", afirmou o oncologista cirúrgico e responsável pelo ensaio clínico Lúcio Lara Santos, à agência Lusa.
O tratamento consiste na utilização de uma molécula sintética, desenvolvida em Coimbra, que é um fotossensitizador e entra em acção num determinado local sem afectar as células saudáveis.
A destruição do tumor faz-se quando a molécula é iluminada por uma determinada “cor” – daí, esta ser uma terapia fotodinâmica. A explicação é dada ao jornal “Público” por Luís Arnaut, investigador e professor catedrático do Departamento de Química da Universidade de Coimbra e um dos inventores da molécula, chamada redaporfina e que começou a ser desenvolvida em 2010.
Mariette Pereira, Carlos Monteiro e Sebastião Formosinho Simões (que morreu a 19 de Dezembro de 2016), todos daquela universidade, são os restantes inventores.
Os ensaios clínicos tiveram início há cerca de dois anos e meio em doentes para os quais já "não existiam soluções terapêuticas", adianta à Lusa Sérgio Simões, presidente da Luzitin, empresa nascida a partir da farmacêutica Bluepharma e detentora da licença da redaporfina.
Depois dos testes, alguns doentes que estavam em cuidados paliativos e impossibilitados de comer e falar passaram a poder fazê-lo.
Agora, e antes de chegar ao mercado, o medicamento vai passar por uma nova fase de ensaios com um grupo de doentes mais alargado. O oncologista do IPO Lúcio Lara Santos acredita que depois disso ficará demonstrado "o valor e os benefícios da terapia fotodinâmica com Redaporfin em oncologia".
É, contudo, necessário ainda provar a eficácia deste tratamento quando associado (ou não) a outras abordagens terapêuticas, como a quimioterapia ou a imunoterapia.
O passo seguinte é encontrar financiamento para a produção do medicamento. Correndo tudo bem, o presidente da Luzitin acredita que a comercialização poderá ser aprovada em 2022.
“Medicamento órfão”
Sérgio Simões afirma que a redaporfina pode ser usada como tratamento do cancro das vias biliares, tumor muito raro, mas extremamente severo e sem terapêutica.
O medicamento vai, por isso, ser candidatado à Agência Europeia do Medicamento com o estatuto de "medicamento órfão" – nome dado a um fármaco que “vai dar resposta a uma necessidade que não está colmatada”.
“É uma mais-valia e vamos investir nesta área e utilizar as 'vias-verdes' para as doenças raras para dar um salto importante e fazer o medicamento chegar o mais rapidamente ao mercado", sublinha ainda o presidente da Luzitin.