Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Estudo: Precariedade e medo de perder o emprego condicionam jornalismo

11 jan, 2017 - 20:00 • Manuela Pires

Um terço dos jornalistas trabalha sem qualquer vínculo laboral, uma tendência que está a aumentar, indica o maior inquérito realizado em Portugal.

A+ / A-

Um terço dos jornalistas trabalha sem qualquer vínculo laboral, uma situação precária e frágil tem tendência para aumentar. Esta é uma das conclusões do maior inquérito feito aos jornalistas, um trabalho desenvolvido por uma equipa de investigadores do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE.

Dos profissionais de comunicação social inquiridos, dois terços tinham contratos de trabalho, a maioria sem termo.

Mas há 33,4% que não têm qualquer vínculo laboral e estão, por isso, a trabalhar em condições contratuais precárias e sujeitos a instabilidade e a insegurança.

Miguel Crespo é um dos investigadores deste estudo. Em declarações à Renascença revela que “um terço dos jornalistas está a trabalhar como ‘freelancer’ ou é pago à peça, e é um valor que está a aumentar. Mas, mesmo assim, 70% dos jornalistas têm contrato, sem termo ou a termo certo, sendo que a grande maioria é sem termo”.

O estudo “Os jornalistas são bem pagos? Inquérito às condições laborais dos jornalistas em Portugal” foi desenvolvido pelo ISCTE em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e o Observatório da Comunicação.

Entre 1 de Maio e 13 de Junho, 1.600 jornalistas responderam a 78 perguntas, mas apenas 1.491 respostas foram validadas. É o maior inquérito aos jornalistas feito em Portugal.

As conclusões do estudo que vão ser divulgadas no Congresso dos Jornalistas, que decorre em Lisboa, entre os dias 12 e 15 de Janeiro, mostram que há vários factores que afectam o trabalho dos jornalistas, um deles é o medo de perder o emprego.

“Temos quase 37% que dizem que o medo de perder o emprego afecta muito ou totalmente o exercício livre da profissão. Há aqui uma série de condicionalismos que têm a ver com os contratos de trabalho e a situação genérica dos meios de comunicação em Portugal”, refere Miguel Crespo, que adianta que o salário também condiciona o exercício livre da profissão.

Um em cada quatro recebe entre 500 a 800 euros

O estudo indica que a maioria dos jornalistas, 75%, recebe ao fim do mês entre os 500 e os 1.500 euros.

Uma análise mais fina dos dados permite concluir que 25%, um em cada quatro, leva para casa ao fim do mês um salário entre os 500 euros e os 800 euros, abaixo do salário médio em Portugal.

“Mais 25 % está entre os 800 e os mil euros e os restantes entre os mil e os 1.500 euros", refere Miguel Crespo.

O maior inquérito realizado até agora em Portugal mostra que o salário, o medo de ficar desempregado e a precariedade laboral condicionam mais o desempenho livre da profissão do que as pressões externas.

No que toca a factores internos, os jornalistas consideram que a sua autonomia fica afectada em relação as decisões das chefias e das administrações.

Mais de metade dos inquiridos, 52,1%, exerce a profissão há mais de 15 anos.

Quanto ao futuro do jornalismo, os quase 1.600 jornalistas que responderam a este inquérito são optimistas e pessimistas ao mesmo tempo. Miguel Crespo exemplifica: “Os jornalistas são pessimistas em relação ao contexto, onde se incluem as empresas para as quais trabalham, mas são optimistas em relação à sua própria actuação profissional. É uma conclusão positiva, apesar de todos os condicionalismos externos, os jornalistas individualmente, segundo o nosso inquérito parecem acreditar na capacidade de continuar a fazer bom jornalismo".

Mais mulheres e “abandono precoce da profissão”

Este estudo é o mais recente sobre a profissão. O primeiro foi feito em 1987, por José Manuel Paquete de Oliveira, e ao longo de 30 anos muito mudou. Primeiro, um aumento de mulheres, que eram apenas 20% na altura e hoje as redacções têm quase 50% de jornalistas mulheres.

Em segundo, a formação. Os jornalistas têm hoje uma escolaridade superior à média nacional, sendo que 79,6% têm pelo menos uma licenciatura e um bacharelato.

Mas há pelo menos um dado que não sofreu alterações nos últimos 30 anos: a idade dos jornalistas. Têm em média 40 anos e 84,3% estão entre os 25 e os 54 anos de idade. Acima dos 55 anos de idade há apenas 9,1% dos jornalistas a trabalhar.

“É uma profissão que mostra que ao longo destes 30 anos houve um abandono precoce da profissão. Temos que assumir que o jornalismo é uma profissão geracional, e para quem está numa redacção até pode fazer sentido, porque é uma profissão de desgaste rápido” refere Miguel Crespo.

A maioria dos jornalistas (58,9%) é repórter, mas ainda assim é relevante o número que ocupa cargos de direcção ou chefia (22,3%).

Os jornalistas continuam a ter como meio principal de publicação a imprensa, com 46,5%. Em segundo lugar da tabela está o online, com 23,1%. A televisão ocupa 20,3% e a rádio 12,4% dos jornalistas.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • oraaíestá!
    12 jan, 2017 dequalquerlado 14:28
    Depois ainda falam em democracia ou em liberdade? Com um jornalismo limitado, que fala só o que se convém e em favor de alguns poderosos e sem caráter. Este país está condenado em todos os sentidos, na justiça, na politica, nesta europa, e até na comunicação social. Uma vergonha. Por isso que não se fale em democracia ou em liberdade, pois só humilha a quem ainda tem algum bom senso.
  • O país da diversão
    12 jan, 2017 Lisboa 12:05
    Existe um mau jornalismo neste país, o jornalismo da diversão, da manipulação e da censura. Parece que alguns jornalistas nem sabem o que é uma notícia, pois parece que todo o "lixo" insignificante pode ser notícia. Mais de 40 anos após o 25 de Abril continua a haver censura. Até quando esta vergonha vai continuar?
  • AM
    12 jan, 2017 Lisboa 08:32
    Jornalistas mal criados, não conhecem a fita métrica, nem sabem o que significa ser Funcionário do Estado. No Estado, não há o envelope do Pai Natal, nem saco azul. Aprendam!
  • FR
    12 jan, 2017 Portugal 01:05
    Boa tarde, quanto é que a CIA vos paga para passar noticas dos EUA?
  • Zé Português
    12 jan, 2017 Canadá 00:32
    Por isso é que a imprensa em Portugal não é comprometida com a verdade dos factos. Leem-se notícias deturpadas ou muitas vezes nem se leem se não convier ao jornal. A imprensa em Portugal está longe de ser livre, está longe de falar a verdade custe o que custar seja a quem for. Uma vergonha de imprensa .
  • F Soares
    12 jan, 2017 A da Gorda 00:17
    Jornalistas condicionados ???? Nem à bomba !!!!!! ( dizem eles, claro!!!!) Afinal sempre reconhecem que são uns paus mandados, manipulados e mandados manipular e aldrabar ( nem todos::), armados/as em virgens impolutas a e escudados numa coisa a que chamem liberdade de imprensa ou expressão quando estão borrados de medo de perder o emprego como os outros cidadãos....,

Destaques V+