03 fev, 2017 - 09:56
“Bastaram duas semanas da nova presidência norte-americana” para o mundo perceber que precisa de “uma Europa forte”. A observação foi feita pelo primeiro-ministro, António Costa, em La Valetta, Malta, esta sexta-feira.
“Creio que para os mais cépticos bastaram duas semanas da nova presidência norte-americana para se perceber a importância de termos uma Europa forte e uma Europa unida. Uma Europa capaz de se afirmar no mundo no domínio da defesa, no domínio da política comercial, na política da gestão dos fluxos migratórios, e unida internamente”, afirmou António Costa.
O primeiro-ministro falava à saída de uma reunião dos socialistas europeus, imediatamente antes de participar numa cimeira informal de chefes de Estado e de Governo da UE, em Malta, que será consagrada à questão das migrações.
Costa defendeu a necessidade de reforçar o diálogo com os países do Sul para prevenir mais mortes no Mediterrâneo e espera que a Europa possa “dar ao mundo um bom exemplo de como a gestão dos fluxos migratórios pode ser feita de um modo diferente do que a política de muros, que nada resolve e que simplesmente viola a dignidade dos seres humanos”.
Apontando que a cimeira de hoje "será concentrada numa dimensão muito importante, que tem a ver com a dimensão externa da política migratória", designadamente o trabalho que se deve fazer com os países de África, subsaariana e mediterrânica, para "combater as causas profundas dos movimentos migratórios", o primeiro-ministro disse que é aí que a Europa se pode diferenciar da nova política de Washington.
"Claro que é preciso uma resposta à administração norte-americana, mas a melhor resposta à administração norte-americana é mostrar como a Europa é uma fortaleza contra os seus valores e é capaz de actuar unida para ter uma posição no mundo forte e diferenciada daquela que é a posição da presidência norte-americana, nomeadamente na gestão da imigração", disse.
Costa destacou também a "dimensão humanitária" da resposta a dar, "que permita aquilo que é essencial: que o Mediterrâneo não continue a ser um cemitério de vidas", e haja "uma gestão humanitária em colaboração com as Nações Unidas".
"A nossa resposta não é construir muros, não é banir nacionalidades de poderem vir à Europa", prosseguiu, afirmando que a resposta deve passar por essa "dimensão externa de investir, de contribuir para a paz, para a democracia, para a estabilização", sobretudo em África, e "é nessa resposta positiva que a Europa se diferencia da nova política" da Casa Branca.
Ainda sobre qual a posição que a Europa deve assumir face à nova administração norte-americana liderada por Donald Trump, o primeiro-ministro defendeu que, por um lado, se deve "saber preservar uma relação histórica que a Europa tem com os EUA, e não confundir com uma presidência que é necessariamente conjuntural", mas também perceber que a UE tem que se mostrar unida e mostrar que não está disponível "para que a presidência americana contribua para a divisão da Europa".
"O mundo em 15 dias percebeu bem como precisa de uma Europa forte", reforçou.