07 fev, 2017 - 08:18
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Portugal quer ser ouvido na questão da construção de um armazém nuclear em Almaraz, em Espanha mas a cerca de cem quilómetros da fronteira portuguesa.
“Portugal optou, desde o início, por não seguir o caminho da energia nuclear e seguir outras alternativas, nomeadamente ao nível das energias renováveis – em que somos um dos países que mais cresceu e que mais tem apostado nessas fontes de energia alternativas. Não é justo que continuemos a sofrer riscos”, defende a especialista em recursos hídricos e activista do Movimento Ibérico Antinuclear Carla Graça.
Convidada do programa Carla Rocha – Manhã da Renascença, a activista explica que o recurso colocado junto do Ministério da Energia espanhol visa “suspender a declaração de impacto ambiental” e passar “a uma avaliação de riscos transfronteiriços”.
“O principal fundamento deste recurso é o facto de o Estado e o povo português não terem sido ouvidos e consultados nesta consulta para ao armazém nuclear. Se não houver aceitação deste recurso, então recorrer-se-á aos tribunais espanhóis”, garante Carla Graça.
A especialista considera “a questão técnica de Almaraz está a bem desenvolvida pelo Governo português”, mas lembra que Espanha é um Estado soberano e que, não havendo uma política energética europeia, a União Europeia não pode interferir.
O diferendo tem, por isso, de ser “decidido ao nível político”, explica. É nesse âmbito que o Movimento Ibérico Antinuclear vai ser recebido, esta terça-feira, na Presidência da República.
O objectivo é levar Marcelo Rebelo de Sousa a “contribuir com o diálogo junto de Espanha, tentando fazer ver as razões do povo português”.
“Temos de relembrar – e nunca é demais – que a Assembleia da República tem uma resolução aprovada por unanimidade em que recomenda ao Governo que encete todos os esforços para que se encerre a central nuclear e depois tem uma última resolução relativamente ao armazém nuclear”, sublinha Carla Graça.
A activista destaca ainda que “o que está aqui em causa, além do próprio armazém, é o prolongamento da vida útil da central de Almaraz, que tem tido um conjunto de incidentes – desde o seu início e cada vez mais recorrentes ao longo dos últimos dois anos”.
Aliás, diz, “o Movimento Ibérico Antinuclear em Espanha, e cá, pugna pelo fim da energia nuclear também na Europa, porque a maior parte das centrais estão muito para lá do seu tempo de vida útil, com riscos acrescidos e é preciso equacionar um novo modelo de energia nuclear, até ao nível mundial”.
No final do mês, deverá ser conhecida a decisão do Ministério da Energia espanhol sobre o recurso. Se não for aceite, entra uma acção em tribunal e o caso pode arrastar-se durante “um ou dois anos”.