10 fev, 2017 - 07:21
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Os autarcas de Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Vila Velha de Ródão deixaram bem claro que estão contra o prolongamento da vida da central nuclear espanhola de Almaraz para lá de 2020.
"Estamos unidos. Não queremos o prolongamento de Almaraz. Sabemos os riscos que isso acarreta. Nós [portugueses] estamos mais alerta sobre esta realidade do que as comunidades espanholas", afirmou o presidente da Câmara de Castelo Branco, Luís Correia.
O autarca falava durante uma conferência, quinta-feira à noite, promovida pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB), cujo tema foi "Central de Almaraz", na qual estiveram também presentes os seus homólogos de Idanha-a-Nova e de Vila Velha de Ródão.
Luís Correia sublinhou que a questão da central nuclear espanhola de Almaraz tornou-se um tema da actualidade, devido às decisões do Governo espanhol, sobretudo, em relação à construção de um aterro de resíduos nucleares, uma situação que desde logo para o autarca configura uma "ameaça ao prolongamento da vida [da central] e um aumento da probabilidade de risco".
"Não podemos virar costas a esta matéria. Este é um problema de nível nacional. Precisamos de o pensar dessa forma. Desde logo, devemos alertar o país inteiro para esta realidade e não devemos deixar que o país pense que este é um problema só das comunidades junto à fronteira", sustentou.
Já o presidente da Câmara de Vila Velha de Ródão, Luís Pereira, realçou o facto de Portugal não ter optado pela energia nuclear e de se estar a debater o assunto por causa das decisões de outro país.
O autarca apelidou mesmo a decisão unilateral do Governo espanhol de avançar para a construção do aterro de resíduos nucleares em Almaraz como "uma nódoa no relacionamento entre Portugal e Espanha".
"Hoje assistimos à viabilização de uma construção [aterro] para dar mais um prazo de vida de 10 ou 20 anos [à central]. Já vai a caminho dos 30 anos, não sabemos se vai aos 40 ou aos 50 anos. Decisões destas não podem ser tomadas sem um processo transparente", afirmou.
Risco e perigo
Para este responsável, está a assistir-se de uma forma encapotada, a uma decisão que se percebe que já está tomada e alertou para a necessidade de se defender a alteração da legislação europeia sobre esta matéria.
"Estas são decisões que não têm rosto. O ónus fica sobre a população por mais 10 ou 20 anos", concluiu.
Por seu turno, o presidente do município de Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto, disse que Almaraz é uma questão muito séria que deve preocupar. Defendeu ainda que o prolongamento da vida útil da central de Almaraz, "para além da data [2020], resulta num "perigo bastante significativo".
Armindo Jacinto sublinhou que não tem quaisquer dúvidas de que a decisão do Governo espanhol em construir um armazém de resíduos nucleares em Almaraz, é claramente com o intuito de prolongar a vida da central. "Não devemos deixar que a central funcione para além de 2020. O risco é demasiado grande para todos nós e acho que devemos ser bastante firmes e tomar posições bastante claras sobre esta matéria", concluiu.
A presença do comandante nacional operacional da Protecção Civil, Rui Esteves, esteve prevista, mas o presidente do IPCB, Carlos Maia, explicou que, por motivos de última hora, não foi possível a sua ida a Castelo Branco.
No debate, participaram ainda Joanaz de Melo, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, e o professor do IPCB, Paulo Marques.
A central nuclear de Almaraz, a mais antiga de Espanha ainda em laboração, devia ter fechado em 2010. O governo espanhol prolongou-lhe a vida até 2020, mas as empresas accionistas pretendem que a licença seja renovada por mais 10 anos.