14 fev, 2017 - 18:16 • Sérgio Costa
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Os pilotos de linha aérea vêem sérios riscos na escolha da base aérea do Montijo para ser aeroporto complementar de Lisboa.
A Associação de Pilotos de Linha Aérea (APLA) sustenta que a base do Montijo, que hoje serve apenas a Força Aérea Portuguesa, não poderá ser alternativa nos voos de longo curso caso avance a prevista desactivação de uma das duas pistas do Aeroporto Humberto Delgado.
No plano da ANA – Aeroportos de Portugal – está previsto o encerramento da pista 17/35 para aí instalar um “hub” e aumentar a capacidade de parqueamento de aviões.
A ideia levou o presidente da APPLA a desenvolver contactos com o Governo. Segundo Miguel Silveira, o executivo “já está ciente de que a pista 01/19 do Montijo não é uma alternativa por ser muito pequena”, por a resistência da pista ser “insuficiente” e por “não ter ajudas rádio que permitam aterragens por instrumentos”.
À Renascença, Miguel Silveira alerta ainda para ventos que facilmente mudam de direcção. “A pista 17/35 da Portela permanece como a mais indicada para aterrar”, conclui.
O presidente da APLA acrescenta que a base aérea a sul do Tejo só poderá receber aviões de pequeno e médio curso, pelo que a solução prevista obriga à extensão da pista do Montijo. É neste ponto que Miguel Silveira identifica o grande problema: “Como é que aquela pista vai crescer se está inserida na reserva do estuário do Tejo?”.
Miguel Silveira diz já ter alertado os políticos para este facto, acrescentando que “colmatar dificuldades financeiras com regimes alternativos é muito perigoso”.
“Se acontecer alguma coisa, um acidente grave que possa relacionar-se com o encerramento da pista 17/35, o responsável será chamado ao banco dos réus. Estamos a falar de vidas humanas”, avisa.
Ouvir “quem sabe”
Miguel Silveira lamenta, por isso, a ausência de contactos prévios com os pilotos sobre as soluções possíveis para aliviar o tráfego na Portela.
O presidente da APPLA sublinha o “clima positivo” de uma recente reunião com o secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, a quem foram transmitidas as preocupações.
Deixa, contudo, um desabafo: “quem sabe de descolar, voar e aterrar aviões na infra-estrutura são os pilotos. A NAV faz os estudos do espaço aéreo, fantástico. A ANA faz os estudos dos aeroportos, ninguém sabe mais do que eles. Mas só há uma classe que percebe disto tudo.”
Os alertas de Miguel Silveira surgem a poucas horas da assinatura do acordo entre o Governo e a ANA para desencadear os estudos necessários com vista ao aproveitamento da base aérea do Montijo para complementar o aeroporto Humberto Delgado.