15 fev, 2017 - 07:37
Estão a escassear os medicamentos básicos para a maioria dos doentes oncológicos. A indústria farmacêutica está a desinteressar-se pela produção dos fármacos usados nas quimioterapias de muitos tipos de cancro, porque são baratos e dão menos lucro.
A notícia é avançada na edição desta quarta-feira do “Jornal de Notícias”, segundo o qual o problema é global e afecta toda a Europa e também os Estados Unidos.
“Estamos a falar de fármacos básicos necessários para cerca de 80% dos doentes oncológicos”, afirma ao jornal a responsável da Unidade da mama e do Programa de Investigação do Cancro da Mama do Centro Clínico Champalimaud, Fátima Cardoso.
A especialista diz-se preocupada e o director do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da Direcção-Geral de Saúde, Nuno Miranda, fala em “problema muito grave”, dado que muitos dos medicamentos em causa são insubstituíveis.
O Infarmed confirma a dificuldade de aquisição dos fármacos, o que obriga a um controlo maior dos stocks, mas descarta a ideia de ruptura persistente – “existem pontualmente medicamentos em situação de ruptura”, afirma.
Por isso, diz Nuno Miranda, as farmácias hospitalares estão a emprestar medicamentos umas às outras para ir resolvendo as falhas.
“Em alguns casos, tem-se optado por terapias mais caras ou tentar encontrar outros fornecedores”, acrescenta.
Na opinião de Fátima Cardoso, o problema de produção leva a carências na distribuição: “como não são produzidas quantidades suficientes, são vendidos nos países que podem pagar mais e esgotam nos países mais pobres”, explica, avançando que a Alemanha, por exemplo, “chega a pagar cinco vezes por alguns destes fármacos”.
Na opinião de Nuno Miranda, não cabe a um só país resolver este problema grave e cíclico. “Já foi discutido na União Europeia e na Organização Mundial de Saúde, mas ainda não foram dados significativos”, lamenta, em declarações ao JN.