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“Nenhuma circunstância torna a vida indigna”. Médicos católicos rejeitam eutanásia

20 mar, 2017 - 13:29 • Filipe d'Avillez

“A pretensão de querer eliminar o sofrimento é compreensível. Mas não se elimina o sofrimento com a morte: com a morte elimina-se a pessoa que sofre”, diz a AMCP.

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A Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) recusa a noção de que a dignidade humana se possa perder ou que seja variável e rejeita a possibilidade de os médicos poderem vir a participar activamente na morte dos seus doentes.

Numa nota com 10 pontos elaborada no conselho nacional da AMCP, que decorreu no sábado, os médicos terminam dizendo que a vida é um valor. “Somos confrontados com uma cultura e uma sociedade que pretende redefinir princípios relativos ao respeito pela vida humana. Com uma sociedade que se arroga no direito de querer redefinir critérios de dignidade humana. E com a difusão da ideia de que a dignidade varia ou se perde, de acordo com as circunstâncias.”

“Reafirmamos, pois, com convicção e fortaleza, que toda a vida merece acolhimento, respeito e protecção. Que toda a vida tem dignidade. Que nenhuma circunstância a tornará indigna. Muito menos a doença ou o sofrimento”, concluem.

Os médicos católicos sublinham que a eutanásia viola o código deontológico da profissão e que tanto ela como o suicídio assistido e a distanásia são formas de instrumentalizar a medicina “com objectivos que são alheios à sua actividade”.

“Não é possível ser médico sem passar pelo confronto com o sofrimento e com a morte. Não somos donos da vida dos nossos doentes, como não somos donos da sua morte”, consideram ainda, recordando que actualmente “é possível aliviar a dor física intensa e a angústia. Os medicamentos hoje disponíveis tornam possível o bem-estar, sem dor”.

“Os medicamentos hoje disponíveis tornam possível o bem-estar, sem dor. O sofrimento intolerável é uma referência subjectiva que não pode justificar a morte, seja de quem for. Não pode justificar a morte a pedido. Seria a morte da própria medicina ou do acto de cuidar”, afirmam, antes de defender o alargamento das redes de cuidados continuados e paliativos, bem como “políticas públicas que promovam a coesão social e a protecção dos mais frágeis. Quem se sente acompanhado, não desespera perante a morte e não pede a morte como solução”.

Contudo, os médicos católicos reconhecem que nem sempre é fácil estabelecer uma linha clara entre um cuidado adequado e a obstinação terapêutica, pelo que concluem que “os médicos precisam de ter mais formação a este respeito e trabalhar em equipa para melhor poder fundamentar decisões.”

Por fim, a AMCP lamenta que o debate público esteja a ser manipulado com recurso a termos e conceitos usados erradamente. “O debate público a que assistimos tem introduzido ideias como as da autodeterminação, da liberdade, da dignidade e da compaixão. É preciso ser claro. O uso destes termos pretende confundir e manipular a opinião pública. A vida é um direito inviolável e irrenunciável. Ninguém deverá ter, seja em que circunstâncias for, o direito a ser morto.”

“A pretensão de querer eliminar o sofrimento é compreensível. Mas não se elimina o sofrimento com a morte: com a morte elimina-se a pessoa que sofre.”

O debate sobre a eutanásia foi aberto na sociedade portuguesa com a publicação de uma petição pública a pedir legislação a este respeito, que foi entregue na Assembleia da República depois de recolher pouco menos de 8.500 assinaturas. Outra petição, no sentido contrário, foi entregue mais tarde, depois de reunir 14 mil.

Na sequência destas iniciativas, o Bloco de Esquerda e o PAN já apresentaram anteprojectos de lei.

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  • Dra Laporte.Mercedes
    12 dez, 2017 Argentiina CABA 00:25
    Imteresante la nota Me la puedes emviar en español Muchas gracias Bendiciones
  • mara
    22 mai, 2017 Portugal 22:27
    Quem concorda com a eutanásia que se mate, é fácil e deixa de chatear os outros com os seus disparates...
  • tal e qual
    20 mar, 2017 lx 22:58
    subscrevo na integra o comentario da Fanã.
  • fanã
    20 mar, 2017 aveiro 17:05
    Não é a primeira vez que dou a minha opinião sobre este tema. Portanto vou convidar os que querem , a observar a fotografia de ilustração deste artigo. Na minha profissão, muitas vezes acompanhei pessoas em fim de vida, em extremo sofrimento e desejando morrer.. Muitas horas passei também a ser uma presença nestes últimos momentos, muitas vezes dei as minhas mãos para apaziguar esse momento de partida. E podem crer, nunca enfiei um par de luvas para tal . Mais nojo ou medo me metem certos profissionais, e essencialmente médicos que evitam simplesmente de entrar no quarto do moribundo. Portanto Senhores Doutores tem o direito de recusar a eutanásia, mas tem o dever de acompanhar com a vossa presença também estes últimos momentos. Portanto defendo o legitimo direito a por fim ao sofrimento quando este é exigido em plena consciência, por a pessoa dona da sua vontade, quando nada mais permite uma vida com qualidade e dignidade que só o doente pode avaliar e não um profissional de Saúde ! Quanto a um acompanhamento com qualidade e humanidade, só em certos estabelecimentos privados com custos proibitivos, para a enorme maioria dos Portugueses . Falem, mas nada de hipocrisias !
  • Ana Rosa
    20 mar, 2017 lisboa 15:45
    Os médicos não podem arrogar-se ser nem donos da verdade, nem donos da vida dos outros. Este tipo de posicionamento é de uma arrogância extrema e feroz. A todos os seres humanos deve ser reconhecido o o direito inalienável de decidir que, quando a própria vida passou a resumir-se a um estado de sofrimento atroz em que já nada existe para além da dor e da expectativa da morte, querem morrer. A ninguém deve ser dado o poder de vida e morte sobre outro ser humano. E quando um médico afirma que ninguém tem direito a escolher morrer, mas que ele - médico - detém o poder de obrigar outrem a viver mesmo que não o deseje, está na realidade a arrogar-se um poder que não lhe pertence e a exercer um direito que lhe não assiste. E a afirmação de a vida não perde dignidade é tão enganosa... que dignidade existe quando já não somos capazes de sermos nós próprios e necessitamos de outrem para as funções mais básicas da existência? que dignidade existe quando o único elo que nos prende à vida é o fio que nos liga a uma máquina que respira e funciona por nós? que dignidade existe quando já não temos consciência de nós? Ninguém quer ter o direito a ser morto, mas simplesmente o direito a morrer com dignidade, em paz, no momento da sua escolha, sem que ninguém, e nomeadamente um médico arrogante, lhe queira impor um sofrimento prolongado e inútil em nome da sua falsa e obstinada moral...
  • João Silva
    20 mar, 2017 aAlgueirão 15:24
    Espero que o pensamento medico católico não se resuma somente a este assunto, em breve iremos ter consultas a um preço simbólico, Um obrigado e que Deus o proteja será certamente o preço justo.
  • Carlos Gonçalves
    20 mar, 2017 Seixal 15:18
    Eu ainda sou livre de mandar no meu corpo e em mim... e não quero que nenhuma religião mande no meu corpo. Se eu não acredito em nenhuma delas porque hei-de ser obrigado a segui-las???
  • Paulo
    20 mar, 2017 Lisboa 14:56
    Eliminando a pessoa que sofre elimina-se, pelo menos, esse sofrimento.
  • 20 mar, 2017 14:00
    Meus senhores, se não aceitam não praticam! É como o aborto! Nenhum médico é obrigado a fazer o que a sua consciência não manda (fossem os políticos asim!). Eu quero poder escolher! Na verdade, não eliminamos o sofrimento: nós que cá ficamos prolongamos o nosso próprio sofrimento, mas pelo menos quem vai já não tem de passar por isso. Antes assim. Não chega a ser altruísta? Sofremos só nós, para que os outros descansem sem sofrer?

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