22 mar, 2017 - 16:00 • Rosário Silva
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) está a acompanhar a situação das barragens em Portugal e destaca uma “irreguralidade” quanto às suas disponibilidades hídricas, muito por força da precipitação e do desfasamento entre a época de maior abundância de água e a de maior consumo.
“Os valores de precipitação registados no primeiro trimestre do ano hidrológico 2016/2017 estavam abaixo da média”, indica o relatório a que a Renascença teve acesso.
No final do ano passado, 78% do território nacional estava em situação de “seca fraca”, mas o quadro alterou-se nos primeiros dois meses de 2017.
“Em Janeiro, e à excepção do Barlavento Algarvio, verificou-se um aumento da área do território nacional em seca fraca. Em Fevereiro, a situação regrediu e passou para os 57 por cento, devido aos períodos de chuva, por vezes forte, o que implicou uma subida das disponibilidades em todas as bacias”, lê-se no documento.
Segundo a APA, “das 58 albufeiras monitorizadas, 23 apresentavam disponibilidades hídricas acima dos 80 por cento do seu volume total e dez tinham disponibilidades inferiores a 40 por cento”.
Desta dezena de albufeiras, sete situam-se na bacia do Sado (Alvito, Odivelas, Fonte Serne, Pego do Altar, Campilhas, Roxo e Monte da Rocha), sendo, de resto, o caso mais preocupante e que se arrasta há mais tempo.
“Desde Janeiro do ano passado que esta apresenta valores muito baixos de armazenamento, devido à fraca precipitação na região, quer no ano hidrológico de 2015/2016, quer no primeiro e segundo trimestre de 2016/2017”, acrescenta o boletim intermédio sobre as disponibilidades hídricas armazenadas nas albufeiras.
O relatório dá, ainda, conta de que em Fevereiro “houve períodos de chuva, por vezes intensa, nas regiões Norte e Centro e na bacia do Guadiana, o que implicou uma subida das disponibilidades em todas as bacias, sendo mais significativa nas bacias do Lima, Cávado, Ave, Douro, Ribeiras do Oeste e Guadiana”.
Barragens do Sado com cerca de 30% da capacidade de armazenamento
Em declarações à Renascença, o director regional do Alentejo da APA confirma que a precipitação ocorrida na região, neste Inverno, “não foi abundante”.
De acordo com André Matoso, “numa situação normal de Inverno as albufeiras que já estavam com um armazenamento relativamente baixo no ano passado, agora recuperariam, o que não aconteceu em alguns casos”.
As barragens da bacia do Sado são, assim, as que conferem maior inquietação.
“Há albufeiras que terão menos de 31% de água armazenada e outras um pouco mais, o que pode configurar uma maior preocupação do ponto de vista das populações”, refere André Matoso, dando como exemplo as barragens do Roxo e Monte da Rocha.
“Não estou a dizer que há falta de água para abastecimento, estou a dizer que tem de haver um cuidado acrescido, porque estas albufeiras também constituem origens de água para regadio e agricultura”, sublinha.
Contudo, esta não é uma situação generalizada, como exemplifica: “Na bacia hidrográfica do rio Guadiana, onde está a albufeira do Alqueva, o enchimento atinge cerca de 80%, e na bacia hidrográfica do rio Mira, estamos com 70%, constituindo valores bastante apreciáveis”.
André Matoso coloca de lado um cenário alarmista, mas admite que a situação é preocupante.
“Temos que ser realistas”, menciona, ao mesmo tempo que fala na necessidade de se aguardar, nomeadamente, pelos meses de Abril e Maio para se efectuar “um balanço de como está a situação”.
De momento, conclui, “não há problemas de abastecimento para as populações nem para a agricultura”.