30 mar, 2017 - 16:34 • José Carlos Silva
É necessário conhecer, analisar e debater tudo o que foi estudado em torno da opção Montijo para futuro aeroporto complementar aeroporto de Lisboa. O antigo ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território garante que ignorar esta necessidade é um grave erro político.
João Cravinho, que defendeu a solução Ota para o novo aeroporto, arrasa que se faça do transporte fluvial a resposta para o transporte de passageiros do futuro novo aeroporto no Montijo e lembra que as ligações ferroviárias de Alta Velocidade vão ser obrigatórias.
Há ainda muito por esclarecer na escolha do Montijo?
Nós temos uma série de situações que não estão esclarecidas. A primeira é o problema da capacidade aeroportuária, que vai ser agora reforçada em relação a possíveis níveis de procura.
Portanto, o problema de saber, em princípio, qual será a previsão de crescimento da procura que deve ser satisfeito por estas novas previsões. Estamos a falar de quê? Dez anos, como recentemente veio a público por parte de um professor do Técnico? Estamos a falar de 40 anos, como tão bem a ANA tem dado a conhecer? Seja lá como for, o público tem de ser esclarecido.
É um grave erro político estar a trabalhar nisto em segredo ou por facto consumado. A história do novo aeroporto de Lisboa é tal que só por si é um problema.
Mas há mais questões.
Depois temos outros problemas como o das acessibilidades. Fala-se poeticamente de fazer o centro da questão o transporte fluvial, até porque os turistas assim têm o benefício extra de uma vista magnífica sobre Lisboa.
Isto é demasiado poético, no mau sentido do termo, ficarmos por aqui ou com tratamentos sumários sem sólida fundamentação publicada, conhecida e debatida.
E depois há a vertente ambiental que não está fechada.
O primeiro-ministro fez muito bem em dizer que a orientação está a ser tomada no sentido de localizar no Montijo a expansão aeroportuária, mas que essa decisão está ainda dependente de uma declaração de impacto ambiental que só em 2018 ficará concluída devidamente.
E é bom tomarmos consciência de outra coisa: nós não estamos adiantados, ou não adiantámos a decisão, estamos atrasados cinco anos. É absolutamente inconcebível. Alguém tem gravíssimas responsabilidades sobre isso e não são difíceis de identificar.
Entre colocar um comboio na Ponte Vasco da Gama ou fazer uma travessia especificamente ferroviária, mas com custos mais elevados, qual é a opção que o Estado português deveria tomar nesta altura?
Seja qual for a dimensão final das infra-estruturas a sul, estamos aqui a falar de uma infra-estrutura que vai ser utilizada durante muitas décadas, em princípio por 50 ou 60 anos. Portanto, nesta perspectiva, se o Montijo não for um remendo muito provisório vai ser preciso levar lá a alta velocidade, porque isso resulta inclusivamente de directivas europeias que obrigam as infra-estruturas aeroportuárias, incluídas nas redes transeuropeias, a terem TGV num prazo largo à nossa frente.
Ainda há tempo, bastante tempo, mas um dia vai ser necessário. Portanto, este problema mais cedo ou mais tarde vai ter que ser resolvido. Em princípio deveria ser já.
Mas há as questões financeiras, não é?
Há questões financeiras e há questões também de ordenamento do território e há ainda as questões práticas e concretas, porque, entre Lisboa e a outra margem, esta barreira extremamente importante não se vence de qualquer maneira.
Uma infra-estrutura de alta velocidade, como poderá deduzir-se, e é o que as experiências dizem, amarrar a alta velocidade à margem norte é complicado, não é? É uma necessidade lógica assegurar que a alta velocidade é usada inclusivamente para servir passageiros que não estão em Lisboa mas que estão por hipótese a norte, e, portanto tem de haver uma continuidade, uma articulação, uma conformidade entre a solução do eixo de alta velocidade Lisboa-Porto e o aeroporto de Lisboa, inclusive este aqui da margem sul. Como é que isso se faz? É isso que nós precisamos de ver esclarecido.
É evidente que há uma maneira portuguesa de encarar a questão:“Isso não é necessariamente obrigatório para já, logo se vê porque vamos ter tempo”. Isso é muito mau, estar a fazer infra-estruturas pesadas deste tipo e com um enorme impacto estruturante na base do “para já é assim e depois logo se vê”.
A resposta fluvial não seria suficiente para responder?
Acho muito bem que se pense no transporte fluvial para servir as ligações necessárias ao novo aeroporto. Agora, não me parece que seja curial fazer disso o eixo fundamental da questão das acessibilidades.
Precisamos de saber isso com detalhe, com profundidade, com transparência e com lisura. Ter o jogo escondido na manga é o pior dos disparates que alguma vez se pode fazer neste campo.