Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Intendente já não é uma “zona proibida” de Lisboa, mas ainda há problemas

08 abr, 2017 - 10:24

Com o Largo do Intendente completamente remodelado, os problemas ficaram nas ruas que o circundam, nomeadamente a do Benformoso e dos Anjos, dizem os moradores.

A+ / A-

A requalificação feita no Intendente, em Lisboa, fez com que esta deixasse de ser uma “zona proibida” da cidade, mas os problemas de tráfico de droga, criminalidade e prostituição “nunca desapareceram”, apenas diminuíram, consideram os moradores.

Patrícia Craveiro Lopes conheceu o Intendente há cerca de seis anos e foi “literalmente [essa] a primeira vez” que foi àquela parte de Lisboa, na freguesia de Arroios, vista como uma “zona proibida” devido à “prostituição muito dura, drogas e lixo na rua”, entre outros problemas, contou à agência Lusa.

“O cenário social era assustador em todos os sentidos e, portanto, não havia pessoas a viver nesta zona”, precisou a também presidente da associação cultural Casa Independente, que abriu em Outubro de 2012.

Nessa altura, já se começavam a ver obras e polícia no local e o Largo do Intendente já deixara de ser um parque de estacionamento para camionetas, tudo devido à decisão do ex-presidente da Câmara de Lisboa e actual primeiro-ministro, António Costa, de ali instalar o seu gabinete entre Abril de 2011 e Março de 2014.

Para Patrícia Lopes, estas transformações foram “um marco” e “lavaram a cara” do Intendente.

“Isto ganhou uma dinâmica completamente diferente e eu, inclusive, estou a viver aqui com um filho pequeno. Isto era impensável há uns anos”, realçou, vendo esta como uma “nova sala de estar de Lisboa” usufruída por famílias.

Porém, “os problemas nunca deixaram de existir”, notou.

“Desvaneceram um bocado e ficou menos grave porque era demais, mas não deixaram de existir. Estão gradualmente a deixar de existir, mas ainda são actuais”, insistiu Patrícia Lopes.

Com o Largo do Intendente completamente remodelado, os problemas ficaram nas ruas que o circundam, nomeadamente a do Benformoso e dos Anjos.

Se na Rua do Benformoso a situação melhorou nos últimos anos, com a reabilitação de edifícios e com a abertura de espaços comerciais, no lado oposto, na Rua dos Anjos isso não aconteceu.

“Continua a ser lixo, prostituição – que está muito mais suave –, tráfico de droga à séria e tráfico humano”, enumerou Patrícia Lopes.

Júlio Cunha faz 82 anos em agosto e sempre viveu no Intendente. Foi também lá que se tornou barbeiro, continuando o negócio de família, e que presidiu à colectividade Sport Clube do Intendente.

Depois de uma “época má” de assaltos e roubos, Júlio viu a chegada de António Costa como “uma lufada de ar fresco”.

“Foram criadas esplanadas, coisa que não havia antigamente e [que] deu outro ambiente”, exemplificou.

Ainda assim, reconheceu que alguns problemas ainda se mantêm, o que “é um bocado aborrecido”.

“A solução seria acabar, mas acabar como? Há coisas na vida que são crónicas, não têm retrocesso”, disse, pouco esperançoso.

Júlio defendeu que a existência de colectividades como o Sport Clube do Intendente, que se dedica ao atletismo, ao ténis de mesa e ao futebol além de convívios, pode servir para atenuar estes fenómenos.

O problema é que “os novos desapareceram e os velhos recolheram”, lamentou.

Visão semelhante tem Inês Valdez, tesoureira da Casa Independente, segundo quem a existência deste projecto cultural tem contribuído para atrair jovens e turistas ao Intendente: “Se não se passava nada aqui e passou a passar, as pessoas têm vontade de vir espreitar”.

Ainda assim, de acordo com Inês, os problemas não mudam apenas porque “pessoas de classe média estão aqui a usar o espaço”.

“Isto são coisas que demoram tempo, são processos longos e, nesse sentido, em seis anos há alguma diferença, mas não há muita”, afirmou, lembrando que ali ainda existe “policiamento à porta”, o que não acontece noutras zonas da cidade.

Dinis Beringuilho foi viver para o Intendente há 10 anos e acompanhou todas estas alterações.

Apesar de fazer um “balanço extremamente positivo” da requalificação, considerou que “fica a sensação de missão não terminada”.

“Houve um grande foco apenas no Largo do Intendente e não no resto”, defendeu.

Para Dinis, o actual presidente do município, Fernando Medina (PS), “devia focar-se nesta zona para não deixar morrer a oportunidade criada” com a dinamização dos últimos anos.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+