11 abr, 2017 - 14:01
Assinala-se esta terça-feira o Dia Mundial da Doença de Parkinson, que a farmacêutica Bial quis marcar com o lançamento de uma campanha mundial chamada “Me at my best” (ou, em português, “Eu no meu melhor”).
“O que procuramos é inspirar as pessoas com Parkinson, dizendo aos seus curadores e familiares que as pessoas são mais do que a doença; retirar algum estigma que estas doenças neurodegenerativas muitas vezes têm”, afirma o presidente da farmacêutica portuguesa na Renascença.
“As pessoas têm uma capacidade de superação extraordinária”, sublinha António Portela.
A doença afecta quase 20 mil portugueses e tem tendência para aumentar, acompanhando a esperança de média de vida.
“Estas doenças neurodegenerativas irão ser cada vez mais prevalentes, não porque não existissem antes mas porque não vivíamos o suficiente para lá chegarmos. O Parkinson é uma doença que se manifesta, normalmente, a partir dos 50 anos, com uma idade média de 60. À medida que vamos vivendo mais, as doenças neurodegenerativas vão tendo um peso cada vez maior”, explica o dirigente da Bial.
Convidado no programa Carla Rocha – Manhã da Renascença, António Portela afirma que a farmacêutica “tem apostado muito na investigação no campo das neurociências” e já se dedica há 15 anos à doença de Parkinson.
No ano passado, lançou um medicamento na Alemanha e no Reino Unido “que não cura – até hoje, esse é o grande desafio – mas procura melhorar a qualidade de vida destas pessoas”.
“O que faz é reduzir o tempo ‘off’, ou seja, o tempo que é caracterizado por uma profunda imobilidade das pessoas, que ficam com uma rigidez muito forte, aumentando o tempo ‘on’, o tempo com mobilidade, mas com qualidade, sem ter movimentos excessivos e descontrolados”, explica o responsável.
“Isto permite ter uma qualidade de vida superior”, acrescenta, adiantando ainda que se trata de um medicamento com “poucos efeitos secundários e que é de toma única diária, o que no caso dos doentes de Parkinson, até por estas complicações motoras, é muito relevante porque são doentes que muitas vezes têm de tomar seis, oito, dez medicamentos por dia, exactamente para poderem controlar os picos da doença”.
Morte em França foi "situação triste e infeliz”
Há mais de um ano, um voluntário de um teste clínico da Bial morreu em França. A conclusão final das investigações não é ainda conhecida, mas, de acordo com o presidente da farmacêutica, tudo indica que a morte não estará directamente relacionada com o medicamento testado.
“O voluntário que faleceu padecia – e isso já é público – de uma doença oculta vascular endocraniana que, segundo os investigadores, pode explicar o que lhe aconteceu e porque teve um desfecho diferente dos outros. Mas essa investigação não está concluída e não temos ainda acesso nem ao relatório da autópsia nem aos dados clínicos. Esperemos que em breve se possa clarificar o que provavelmente terá sido uma situação que até pode nem ter tido a ver com o medicamento em si”, afirma.
António Portela não tem dúvidas em classificar o episódio como “uma situação muito triste e infeliz”.
“Houve duas investigações científicas que foram conduzidas e já concluídas e que revelaram que os procedimentos que seguimos e as regras foram todas correctas. Esses relatórios são inconclusivos quanto à causa do que aconteceu, não conseguem explicar porque é que aconteceu”, realça.
“Os quatro voluntários que sofreram efeitos secundários tiveram recuperações muito muito boas e nós esperamos que possam recuperar totalmente”, diz ainda.
Portugal “tem feito um trabalho fantástico”
Na opinião de António Portela, a vinda da Agência Europeia do Medicamento para Portugal “seria extraordinário”.
“Portugal tem desenvolvido, nos últimos anos, um esforço enorme na área da saúde, com resultados visíveis e palpáveis. Em termos de investigação, temos feito um trabalho fantástico que ainda não se traduz em resultados de mercado de uma forma à escala internacional, mas que acho que se continuarmos, se irá traduzir”, afirma o presidente da Bial.
Além disso, “trazer a Agência Europeia do Medicamento implicará que Portugal possa ser o centro das aprovações” e trará pessoas com “conhecimentos técnicos” que nos ajudariam “a ser um centro ao nível europeu”.