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​Magistrado que enfrentou a Máfia diz que “colaboração não pode representar amnistia”

31 mai, 2017 - 01:00 • Marina Pimentel

Em entrevista à Renascença, o magistrado italiano do caso "Mãos Limpas" rejeita em absoluto a ideia de que a corrupção seja um fenómeno mais grave nos países do Sul da Europa.

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Magistrado que enfrentou a Máfia diz que “colaboração não pode representar amnistia”
Magistrado que enfrentou a Máfia diz que “colaboração não pode representar amnistia”

Edward Snowden, Madeleine Albright, Joseph E. Stiglitz, Sérgio Moro e Baltasar Garzón são alguns dos oradores da edição 2017 das Conferências do Estoril, que decorrem de 29 de Maio a 1 de Junho. A Renascença é a rádio oficial. Assista em directo às conferências aqui


A colaboração de criminosos com a Justiça não pode representar uma amnistia do crime, defende o magistrado italiano António Di Pietro em entrevista à Renascença à margem das Conferências do Estoril.

Nos anos 80, liderou uma investigação criminal que passou a pente fino a vida de cerca de seis mil pessoas. Entre elas estavam mais de 800 empresários, quase 500 deputados e quatro ex-primeiro-ministros.

António Di Pietro conduziu uma investigação criminal à corrupção e fraude fiscal que provocou uma hecatombe nos partidos tradicionais italianos.

O grande segredo da Operação “Mãos Limpas” foi a delação. Uns criminosos denunciavam outros e esses outros denunciavam outros. Acabaram presas quase três mil pessoas.

Di Pietro defende a colaboração premiada como instrumento de combate ao crime organizado, mas a moeda de troca da denúncia dos cúmplices do crime não pode nunca representar uma amnistia para o denunciante.

“A colaboração com a Justiça não pode representar uma amnistia do crime. A pena pode ser reduzida, mas tem de haver um reconhecimento do crime, através de uma sentença”, afirma.

Corrupção não é fenómeno do Sul

António Di Pietro falou à Renascença à margem das Conferências do Estoril, onde veio participar num painel com outros superjuízes, como o brasileiro Sérgio Moro que conduz a Operação Lava Jato, o espanhol Baltazar Garzón e o português Carlos Alexandre.

Hoje dedicado à advocacia, Di Pietro rejeita em absoluto a ideia de que a corrupção seja um fenómeno mais grave nos países do Sul da Europa.

“Quando fiz o inquérito do caso “Mãos Limpas” constatei que muito do dinheiro que entrava tinha origem em países considerados totalmente transparentes. Era nesses países que se lavava o dinheiro. Eu creio que a luta contra a corrupção tem de ser uma realidade de todas as democracias modernas, não só dos países do Sul”, sustenta.

Sobre a investigação que conduziu em Itália, António Di Pietro diz que se limitou a reunir prova sobre uma realidade que “todos conheciam”: a corrupção ao mais alto nível do Estado.

“Que o país era corrupto nos seus máximos representantes era um facto conhecido. Faltava a prova judicial que este processo ‘Mãos Limpas’ permitiu reunir. Faltava a prova documental de um facto notório, porque, como se sabe, quando estamos perante a Justiça é preciso reunir a prova. Até lá vigora a presunção de inocência”, frisou António Di Pietro em entrevista à Renascença.

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