02 jun, 2017 - 11:26
Donald Trump rasgou o acordo de Paris, alegando que "não era vantajoso" para o país e "agrava os custos para os americanos". O antigo comissário europeu e habitual comentador da Renascença António Vitorino considera que a decisão “não é uma fatalidade” e acredita que, ainda assim, o documento tem viabilidade.
“Não vejo razões para cair, para ser sincero”, disse o socialista em declarações no programa “Fora da Caixa”, pouco antes do anúncio do Presidente americano.
“Não é uma fatalidade. Tudo depende da China e é muito importante perceber as negociações que estão em curso, por exemplo, entre a União Europeia, a China, o Japão e o Canadá para a subsistência do Acordo de Paris”. António Vitorino considera que esta será a hora da verdade para as intenções manifestadas pelo Presidente chinês.
“Vai a China aproveitar a boleia dos Estados Unidos para também ganhar uma autonomia acrescida ou, pelo contrário, aquele discurso que o senhor Xí Jìnpíng fez em Davos a favor da globalização tem agora aqui um momento de verdade”, questiona, acrescentando que se “a China leva a sério o discurso feito em Davos, este é o momento para a China não sair do Acordo de Paris”.
O antigo comissário refere ainda que esta pode ser uma oportunidade para a China ganhar pontos junto de parceiros estratégicos.
“Há uma janela de oportunidade para fazer um efeito demonstrativo ‘levem-me a sério quando eu falo de globalização’ e, por outro lado, ganhar pontos na relação bilateral com outros países, como por exemplo, os países da União Europeia ou o Canadá ou o próprio Japão, que são muito importantes para a estratégia económica chinesa”, conclui.
Agradar aos lóbis dos fósseis
Na mesma linha, Pedro Santana Lopes diz que a decisão de Trump não vai ter bom acolhimento entre os norte-americanos.
“O que se passa nas opções das empresas norte americanas e na economia do carbono nos Estados Unidos dificilmente acatará estas posições do Presidente Trump. Há mais de dois milhões de americanos que trabalham em empresas de energia eólica e solar e de eficiência energética, 16 vezes mais do que nas empresas ligadas ao carvão”, sublinha.
Santana Lopes lembra ainda que “a renovação na área das energias limpas é economicamente rentável, tem baixos custos em muitos casos e é desejada pelas empresas cada vez mais”.
“Esta é outra matéria em que ele quis manter a sua posição firme e agradar a alguns lóbis dos fósseis”, remata.
Concluído em 12 de Dezembro de 2015 na capital francesa, assinado por 195 países e já ratificado por 147, o acordo entrou formalmente em vigor em 4 de Novembro de 2016, e visa limitar a subida da temperatura mundial reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa.
Portugal ratificou o acordo de Paris em 30 de Setembro de 2016, tornando-se o quinto país da União Europeia a fazê-lo e o 61.º do mundo.
O acordo histórico teve como 'arquitectos' centrais os Estados Unidos, então sob a presidência de Barack Obama, e a China, e a questão dividiu a recente cimeira do G7 na Sicília, com todos os líderes a reafirmarem o seu compromisso em relação ao acordo, com a excepção de Donald Trump.