13 jun, 2017 - 19:06 • Henrique Cunha
O presidente da Douro Azul, Mário Ferreira, garante à Renascença que vai destinar “os meios necessários para perseguir” judicialmente Ana Gomes, por causa das declarações da eurodeputada sobre a compra do navio “Atlântida” aos Estaleiros de Viana.
Mário Ferreira garante que a empresa não está envolvida em nenhum processo menos claro e “não vai desistir” até que tudo fique esclarecido.
“Não é uma questão de intimidação, ela [Ana Gomes] connosco não brinca. Não vai brincar e vai sair-lhe caro esta brincadeira até ela perceber que tem de ter tento na língua”, afirma o empresário.
O Parlamento Europeu recebeu do Ministério Público do Peso da Régua um pedido de levantamento da imunidade parlamentar de Ana Gomes, na sequência de uma queixa do grupo Douro Azul.
Em causa estão declarações da eurodeputada socialista, que considerou a investigação em curso como “um sinal de que algo está a mexer num caso de flagrante corrupção”.
Confrontada na segunda-feira pela Renascença com o pedido da empresa, Ana Gomes reiterou a existência de fortes suspeitas de corrupção. "Da mesma maneira que, em tempos, o ministro Aguiar Branco veio pedir o levantamento da minha imunidade, agora é o grupo Douro Azul. Já estou habituada, isso não me intimida, não me faz desistir de fazer aquilo que eu acho que serve os interesses do país e de querer que se faça justiça e que se apure o que está por trás de actos tão lesivos do interesse nacional, que levam a que haja fortes suspeitas de corrupção e gestão danosa neste processo. Não vou desistir e até vou redobrar os meus esforços", afirmou.
Mário Ferreira concorda, em parte, com a eurodeputada e admite a existência de indícios de gestão danosa, mas garante que a sua empresa nada tem a ver com isso.
“Eu fiquei estupefacto a ouvir as declarações da doutora Ana Gomes, mas concordo inteiramente com ela, concordo que naquele processo existiu uma gestão danosa e existem uma data de situações que têm de ser investigadas, mas dizem respeito ao governo dos Açores e à administração dos estaleiros e ao próprio Governo da altura. Nada tem a ver com a Douro Azul”, refere Mário Ferreira.
O empresário também ficou “surpreendido” por a eurodeputada insistir nas afirmações, mesmo sabendo que está a decorrer uma investigação.
O dono da Douro Azul diz que Ana Gomes ainda “está a tempo” de manifestar “bom senso” e recuar no que disse.
Se a imunidade parlamentar não for levantada, Mário Ferreira diz que vai esperar até que Ana Gomes deixe o cargo de eurodeputada para esclarecer tudo na justiça.
“Poderá demorar três, quatro, cinco anos, não estará no Parlamento Europeu e, certamente, sabe que este tipo de crimes não prescrevem e ela vai ter que responder e vai ter que indemnizar, certamente, as empresas que está a acusar com falta de declarações”, afirma o presidente da Douro Azul.
O navio “Atlântida”, que está na origem de toda esta polémica, foi, entretanto, vendido pela Douro Azul a uma empresa que opera na Noruega.
A Renascença contactou novamente Ana Gomes, para responder às afirmações Mário Ferreira. A eurodeputada explica que foi a Procuradoria-Geral da RepúblicaProcuradoria-Geral da República (PGR) que revelou suspeitas de corrupção na compra e venda do navio “Atlântida” e sublinha que nunca acusou ninguém de ser corrupto.
Ana Gomes considera que a reacção de Mário Ferreira é significativa e que o patrão da Douro Azul “enfiou a carapuça”.
[notícia actualizada às 01h08]