03 jul, 2017 - 18:03 • Ana Rodrigues
A forma como o Governo e o chefe de Estado-Maior do Exército (CEME) estão a lidar com o furto de armas de guerra em Tancos está a motivar descontentamento entre os militares. Os oficiais do Exército estão a ser convocados por email para uma manifestação na próxima quarta-feira, frente à Presidência da República, em Lisboa, avançou o "Expresso" e confirmou a Renascença junto de um organizador.
No protesto, os militares vão depor simbolicamente as espadas contra a forma como cinco comandantes de unidades foram exonerados pelo CEME, Rovisco Duarte, na sequência do furto de armamento de guerra em Tancos, na semana passada.
A iniciativa é de dois militares na reserva, os tenentes-coronéis Pedro Tinoco de Faria e Carlos Gomes.
“Queremos mostrar a indignação de um conjunto de militares que deixou de acreditar no poder político e que decide não mais defender a pátria”, afirma à Renascença Pedro Tinoco de Faria, que vai entregar a sua espada e a do pai. “Trata-se de um gesto simbólico para mostrar que ninguém ficar para trás e queremos estar com os camaradas que caíram.”
Os militares criticam “as sucessivas decisões políticas que comprometeram a defesa do país em nome da poupança” . “Trata-se de um aviso ao poder político”, reforça Tinoco de Faria.
A concentração começará às 11h30 em frente ao Monumento aos Mortos, na zona da Torre de Belém. A contestação segue em marcha silenciosa em direcção ao Palácio de Belém, onde os oficiais prometem depor as suas espadas perante a residência oficial do Presidente da República, comandante supremo das Forças Armadas. Questionado pelos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa não fez comentários.
O Exército anunciou no sábado a saída temporária de cinco comandantes de unidades do ramo para não interferirem com os processos de averiguações sobre o furto de material de guerra em Tancos.
Os organizadores do protesto criticam a decisão e pedem a exoneração do CEME e do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Pina Monteiro.
No email, lê-se que os oficiais querem "demonstrar a indignação, através da entrega da espada, símbolo do comando de oficiais, pela exoneração e humilhação pública, familiar, social a que foram sujeitos os nossos camaradas", assim como "pedir a recondução dos coronéis exonerados no comando das unidades e um pedido formal de desculpas pela Instituição aos seus familiares e camaradas de armas".
Os oficiais devem estar fardados, com o "uniforme nº1, sem condecorações, só com os crachats de especialidade", para além de levarem as espadas, que simbolizam o comando de oficiais.
[Notícia actualizada às 18h50]