02 jul, 2017 - 11:58 • Lusa
Seis homens de várias aldeias afectadas pelo incêndio de Pedrógão Grande conversam, por entre umas cervejas e uns copos de vinho. Há um discurso exaltado, num misto de raiva e de desconfiança, e surge sempre a pergunta "O que vamos fazer?".
No Retiro do Lino, na aldeia da Figueira, à beira de uma casa queimada, o incêndio que provocou a morte a 64 pessoas e mais de 200 feridos continua a ser a conversa de todos os dias. Fala-se do avanço das chamas, de terras chamuscadas, de como conseguiram salvar as suas vidas, casas ou outras pessoas.
"Escapei por um minuto", diz José Esteves, de Pobrais.
O homem, de 52 anos, divide o dia entre fazer o comer para o filho e tratar da "bicharada que sobrou". De resto, não há mais nada, que "tudo o vento levou". Não há lenha, não há quintal, não há árvores, conta.
"Mais importante do que os psicólogos, era postos de trabalho", desabafa José, desempregado, tal como o seu filho.
Por este café, quando se pergunta sobre a perspectiva de os concelhos renascerem das cinzas, como os autarcas têm dito e repetido, todos se riem.
"Para o Zé Povinho, não vem nada. Vai ver se não vão meter tudo ao bolso", comenta Manuel do Carmo, cuja casa ainda "se safou", mas barracão, figueiras e oliveiras foram consumidos pelas chamas.
"Foi uma miséria. Não houve socorro nenhum", sublinha o reformado de Atalaia Cimeira.
O comentário merece logo um chorrilho de críticas dos restantes homens à actuação da Protecção Civil, ouvindo-se um "palhaços", gritado, a alto e bom som, de uma das mesas.
Sentiram-se abandonados no momento em que as chamas passaram pelas suas aldeias e o abandono, sublinham, será aquilo que se vai seguir nos próximos anos.