08 jul, 2017 - 12:52 • Maria João Costa
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Na certeza de que o “dinheiro para grandes obras há”, o padre de Pedrógão Grande diz que o que a população mais precisa neste momento é de aconchegar o estômago.
“Agora, era que as pessoas que têm legumes os levassem às zonas ardidas”, afirma à Renascença.
Júlio Santos lamenta que nem toda a roupa que chegou sirva e diz que até “poderá haver roupa a mais”.
“É lamentável que algumas pessoas despejem o que têm em casa. O que aqui garantimos é que a roupa que não for necessária servirá para outras alturas, como a roupa de Inverno que ainda podem vir a ser necessárias. Voluntários cá da terra estão a fazer as dobragens por terra”, garante, por outro lado.
Faz, este sábado, três semanas que começou o incêndio mais trágico do país. À Renascença, Júlio Santos deixa a promessa: “Isto não vai cair no esquecimento. Enquanto eu for pároco desta paróquia, não vai cair no esquecimento”.
Coro de São Carlos canta na igreja matriz
Para que a tragédia não caia no esquecimento e, muito menos, as vítimas dos fogos, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos interpreta, esta noite, o “Requiem", de Fauré na igreja matriz de Pedrógão Grande.
O concerto, que começa às 21h00, tem o apoio do bispo de Coimbra e terá na plateia o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O incêndio que começou no distrito de Leiria e que depois alastrou aos distritos de Coimbra e Castelo Branco tirou a vida a 64 pessoas. Mais de 200 ficaram feridas, nove das quais com gravidade.
Turistas fogem do cenário de desolação
Na estreita estrada que nos conduz até Trouviscais Cimeiros não há uma árvore verde. A quebra na procura turística, sobretudo da parte de portugueses, é uma das consequências dos fogos.
“Se já havia miséria instalada e aproveitamento destes espaços pela população das grandes cidades, nomeadamente Lisboa, a questão agora agrava-se, porque isto deixa de ter interesse. Está tudo negro”, diz Aires Barata Henriques, homem da terra e proprietário da casa de turismo rural Villa Isaura.
Antigo técnico do Ministério do Ambiente, depois do fogo viu muitas reservas canceladas e acabou dono de hectares de floresta queimada. No seu entender, recuperar passa por cortar a madeira negra e reflorestar com outras espécies, numa acção concertada pelo Governo.
“Era importante neste momento aparecer um programa muito claro do Governo para apoiar a plantação de espécies novas, capazes de enfrentar o fogo e dar um exemplo nesta zona piloto do que é possível fazer no país, com ou não a participação dos privados”, sugere.
“Há muito dinheiro para gerir, que apareceu, não se sabe onde está nem quem o vai gerir. Era importante que o Estado neste momento fizesse a contabilidade desse dinheiro e definisse as suas acções prioritárias”, destaca ainda, defendendo a necessidade de criar uma imagem de confiança e segurança para trazer o turismo de volta à região.
Quem não espera pelo Estado é Josué e Olga David. Ficaram com o seu eucaliptal reduzido a cinzas e decidiram deitar mãos à obra.
Este sábado é o segundo dia em que se dedicam ao corte das árvores ardidas. De moto serra na mão, tentam cortar os eucaliptos que iriam vender dentro de oito anos para rendimento próprio.
Depois dos incêndios de há três semanas, dizem que vão esperar que tudo volte a rebentar.
No seu caminho cruzou-se esta manhã um madeireiro que lhes deixou o contacto, caso queiram vender a madeira queimada. O empresário do sector diz que enquanto a madeira não apodrece pode ser vendida para aglomerados e paletes.
Maior concentração de carrinhos de rolamentos é em Pedrógão
Este fim-de-semana, realiza-se em Pedrógão Grande a Mega Concentração de Carrinhos de Rolamentos, uma tradição que não cedeu ao fogo.
“É a maior a concentração do mundo de carrinhos de rolamentos e 15ª prova do campeonato nacional”, diz à Renascença Luís Dias, da organização.
A prova realiza-se na praia fluvial do Mosteiro, “um oásis verde, com águas límpidas”.
Luís Dias deixa, por isso, “o convite para que venham até Pedrógão Grande conhecer uma das maravilhas do concelho”.