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Pedrógão Grande. Já deveria o Estado ter assumido responsabilidade?

08 jul, 2017 - 16:51

O primeiro-ministro garante que o Estado assumirá todas as suas responsabilidades, mas só depois de elas estarem apuradas. Especialista em Direito Público diz que já se sabe o suficiente.

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O Estado já deveria ter anunciado o pagamento de indemnizações às vítimas mortais e feridos do incêndio de Pedrógão Grande, defende Luís Fábrica, membro do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos.

“Admito que ainda haja aqui muita coisa que tenha de ser investigada, mas em relação à parte do dever de indemnizar, tudo aponta nesta altura para que o Estado pudesse ter tido ‘nós indemnizamos’”, afirma no programa Em Nome da Lei deste sábado.

Também convidado do programa, Joaquim Cardoso da Costa, outro professor de Direito Administrativo, lembra que há pelo menos três precedentes em que o Estado não esperou ser condenado em tribunal para indemnizar as vítimas: em 1993, no caso do sangue contaminado; “outro em 2005 em relação aos menores abusados sexualmente na Casa Pia, em que o Estado promoveu um mecanismo extraordinário de atribuição célere de indemnizações – o que significa que nos dois casos assumiu a sua responsabilidade unilateralmente – e um terceiro que foi o caso de Entre-os-Rios, em que aconteceu o mesmo”.

Se o Estado não decidir unilateralmente indemnizar as 64 vítimas mortais poderá acabar, de qualquer forma, por ser condenado em tribunal. Na opinião de Luís Fábrica, o Estado português é civilmente responsável pela tragédia, independente de ser possível identificar os responsáveis pela falha no socorro às vítimas.

“Nunca saberemos em rigor se foi A, B ou C. O que sabemos é que isto nunca poderia ter acontecido. E só pôde ter acontecido em função do colapso ou deficiente funcionamento de um conjunto de estruturas do Estado. Isso basta para que haja responsabilidade civil, embora não seja uma responsabilidade objectiva”, sustenta.

Opinião diferente tem o deputado do Partido Socialista Fernando Anastácio, que defende uma acção mais pensada.

“O maior risco e erro é anteciparmos conclusões antes dos relatórios. O tempo mediático e a urgência das pessoas leva a uma tentativa de encontrar explicações”, mas “acho essencial esperar esses resultados e actuar em função deles”, afirma.

A comissão técnica do Parlamento ainda não começou os trabalhos e estes poderão prolongar-se por três meses. O PSD não concorda com o compasso de espera e por isso já apresentou às restantes bancadas uma proposta para criação de um mecanismo extrajudicial de carácter urgente, para garantir uma rápida reparação dos herdeiros das vítimas mortais e dos feridos graves dos incêndios.

Fernando Anastácio fala em jogo político, porque essa proposta nunca poderá ser aprovada em tempo útil. “Todos sabemos que, ao ser apresentada agora, não será aprovada em tempo útil de poder ser um efectivo contributo para a solução dos problemas”.

O incêndio de Pedrógão Grande eclodiu há três semanas e foi dado com extinto uma semana depois. Atingiu três distritos: Leiria, Coimbra e Castelo Branco e deixou um rasto de destruição. Das 64 vítimas mortais, 47 morreram na estrada nacional 236-1.

Até agora, a inventariação dos prejuízos e das necessidades materiais está feita, estão lançados concursos e a reconstrução de casas recomeçará em breve. O Governo diz que a reconstrução custará cerca de 500 mil euros. Nada está assumido quanto às indemnizações dos familiares das vítimas.

O programa Em Nome da Lei é transmitido ao sábado na Renascença, entre as 12h00 e as 13h00.

Comentários
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  • fanã
    09 jul, 2017 aveiro 19:38
    Depois de uma catástrofe desta envergadura, promover uma crise politica nesta altura, seria desestabilizar o que tanto se conseguiu a tanto custo. Claro para a oposição ganhar eleições custe que custe é mais importante que apurar responsabilidades primeiro e tirar ilações politicas de seguida. Mas enfim ......o Sr. P.Coelho não se importaria nada de governar novamente com o FMI, a instabilidade do Governo provocaria uma queda da confiança em termos económicos e um descalabro financeiro, e é isso que estes abutres querem conseguir. Tanto gostam de Portugal e dos Portugueses.!
  • Bela
    09 jul, 2017 Coimbra 16:59
    O Estado vai assumir responsabilidades? Acreditam? Se o governo estivesse interessado em fazê-lo, o primeiro-ministro, primeiro trataria do assunto e só depois iria de férias. A sua única preocupação foi não se 'preocupar'. O tempo há-de passar e quando chegarmos ao Natal, ainda os infelizes que ficaram sem nada estarão à espera... e provavelmente o dinheiro já terá sumido, gasto em estudos, estudos e estudos.
  • Al
    09 jul, 2017 Maçã 10:55
    Sabem que mais... Para as próximas eleições continuem a votar nos chucialistas! As palavras que encontro para caracterizar esta gente que nos governa são simplesmente nojentas. Não as posso pronunciar aqui. Só uma pergunta, afinal quem é o Estado? A falta de vergonha é o que mais abunda nesta gentalha que nos governa. 500 mil euros? Nunca foi tão barato uma vida! Nem sei o que se passa na cabecinha deste povinho... É só futebol, abortos e eutanásia! Haja dignidade, haja humanidade. Em 2001 eramos governados pelo Guterres foram ... 59 pessoas no Rio Douro. O outro ainda se demitiu. Em 2017 somos governados pelo Costa e mais 64... Isto sim, É TERRORISMO! Andam os militares a patrulhar o Mediterrânio para salvar terroristas...e a GNR a sacar multas. País de TRISTES! Ainda andam a pedir uma esmolinha com concertos... Os concertos são para fazer festas, não são para fazer luto. Tende vergonha!
  • Alberto
    08 jul, 2017 Prto 20:03
    Só por falta de ética deste governo, é que não assumiram esta tragédia.
  • Americo
    08 jul, 2017 Leiria 19:42
    " Página do MAI no Twitter destaca subida do PS nas intenções de voto “depois de Pedrógão Grande e Tancos" Gente sem dignidade.
  • José Gomes
    08 jul, 2017 Lisboa 19:27
    Então pois? Só num país do 4° ,mundo é que o Estado/governo não assume responsabilidades.
  • vaca voadora
    08 jul, 2017 Setúbal 18:55
    Quem está actualmente à frente do governo não duvido que se estivesse na oposição nem tão pouco de férias teria ido só para estar sempre a matracar em quem estivesse a governar e a dar indicações de como tudo deveria ser feito!. Mas isto de dar a cara nem em todas as circunstâncias convém!.
  • COBARDIA POLÍTICA
    08 jul, 2017 LX 18:55
    Procura-se primeiro ministro desaparecido algures em Espanha visto com chapéu de palha, calções de banho e óculos escuros pois a vergonha é imensa em aparecer depois do desastre de Pedrogão e do roubo das armas em Tancos...Dão-se alivissaras...O pantomineiro mor e vendedor da banha da cobra a ver se passa entre os pingos da chuva..Cobarde político pois foi o primeiro a por-se ao fresco ...
  • bobo
    08 jul, 2017 lisboa e outra 18:46
    E o dinheiro que o povo deu já foi entregue ao povo de Pedrogão Grande ? Eu não acredito na geringonça nem na Santa Casa
  • Mario
    08 jul, 2017 Portugal 18:40
    O estado? nao de maneira alguma nao teem obrigacoes nenhumas foram causas naturais que originaram o sucedido....

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