11 jul, 2017 - 15:42
Veja também:
A coordenadora da associação Moinho da Juventude considerou esta terça-feira que a acusação do Ministério Público contra 18 agentes da PSP por agressões a jovens da Cova da Moura é sinal de um "país democrático e que há justiça".
"É uma boa notícia, é sinal de que Portugal é um país democrático e que há justiça", comentou à agência Lusa a coordenadora da Associação Cultural Moinho da Juventude, Isabel Monteiro.
A Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) informou esta terça-feira que o Ministério Público requereu o julgamento de 18 agentes da PSP pela prática, entre outros, dos crimes de "injúria agravada, ofensa à integridade física qualificada, falsidade de testemunho, tortura e outros tratamentos cruéis, degradantes ou desumanos e sequestro agravado".
O caso remonta a Fevereiro de 2015 quando, segundo a versão da PSP, vários jovens "tentaram invadir" a esquadra de Alfragide, no concelho da Amadora, na sequência da detenção de um jovem que atirou uma pedra contra uma carrinha policial.
"Os meus colegas estavam na rua e viram o jovem ser levado e foram lá saber o que é que se passava", recordou Isabel Monteiro, acrescentando que dois dos cinco jovens que "foram agredidos" eram colaboradores da associação.
Os jovens receberam na altura assistência hospitalar e depois de presentes a tribunal ficaram a aguardar pelo desenrolar do processo com termo de identidade e residência.
A coordenadora do Moinho da Juventude admitiu que após os acontecimentos de 2015 a situação "melhorou um bocadinho", porque em algumas intervenções as autoridades "tiveram mais cuidado, mais tacto".
"Além desse caso de Fevereiro de 2015 já tivemos vários casos em que fazíamos queixas de actuação da polícia e os processos foram arquivados", notou Isabel Monteiro, apontando o caso de um homem "com um braço partido, que foi espancado" em 2016.
A dirigente associativa reconheceu que o Moinho da Juventude mantém contacto mais assíduo com a esquadra da Damaia, que tem agentes que fizeram serviço de proximidade, frisando que a instituição "não está contra a polícia".
"Eles que venham, mas que actuem como deve ser. Se a pessoa fez alguma coisa eles identificam a pessoa e levam a pessoa, [mas] eles antes de identificarem, antes de perguntarem à pessoa o que se passa, começam a bater. Isso não é uma maneira correta [de actuar] ", vincou.
A Associação Cultural Moinho da Juventude, constituída em 1987, desenvolve actividade ao nível social, cultural e económico no bairro do Alto da Cova da Moura.
De acordo com Isabel Monteiro, a creche acolhe 60 crianças, além das 80 que estão aos cuidados de 20 amas no bairro, o Jardim de Infância cuida de mais 80 e o CATL (Centro de Actividades de Tempos Livres) é frequentado por mais 205 crianças.
No domínio da formação parental, a associação presta apoio a seis dezenas de famílias, recebendo financiamento, entre outras entidades, da Segurança Social e do Ministério da Educação.
"Vamos tendo projectos conforme as necessidades da população", salientou a coordenadora do Moinho da Juventude, que conta com a colaboração permanente de mais de 90 pessoas, sem contar com os voluntários.
Segundo a acusação do Ministério Público, os agentes da PSP "fizeram constar de documentos factos que não correspondiam à verdade, praticaram actos e proferiram expressões que ofenderam o corpo e a honra dos ofendidos, prestaram declarações que igualmente não correspondiam à verdade e privaram-nos da liberdade".
Os arguidos encontram-se sujeitos a termo de identidade e residência, acrescentou a nota da PGDL, acrescentando que o inquérito foi dirigido pelo Departamento de Investigação e Acção Penal da Amadora/Comarca Lisboa Oeste, coadjuvado pela Polícia Judiciária.