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A questão cigana "não pode ser debatida nos termos" de André Ventura

19 jul, 2017 - 14:03

Henrique Raposo e Jacinto Lucas Pires criticam declarações do candidato do PSD a Loures. Para Raposo, é “muito injusta a ideia de que só os ciganos enganam o Estado”. Lucas Pires afirma que “o politicamente correcto não ajuda a enfrentar estas questões”.

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Ouça o debate entre Henrique Raposo e Jaciinto Lucas Pires

O comentador Henrique Raposo considera que as declarações de André Ventura sobre a comunidade cigana "não são aceitáveis", que "o CDS fez bem" em se retirar da candidatura a Loures e que "o PSD devia fazer o mesmo".

Na mesma linha, Jacinto Lucas Pires classifica as declarações do candidato apoiado pelo PSD como "inaceitáveis" e faz questão de "elogiar o CDS-PP por se ter afastado e retirado o apoio político” a André Ventura.

"Este assunto – a questão cigana – é importante, mas não pode ser debatida nos termos que foram propostos por esta personagem", defendeu Henrique Raposo, no habitual espaço bissemanal de debate com Jacinto Lucas Pires, no programa Carla Rocha - Manhã da Renascença.

"Nasci e cresci ali", em Loures, diz Raposo, "conheço aquilo muito bem e há, evidentemente, uma guerra fria constante, há décadas, entre a maioria branca e a minoria cigana". Todavia, neste caso, "“a personagem não ajuda” porque "a maneira como falou cola-o a um discurso do tipo de Le Pen e não enfrenta o problema de maneira concreta".

"Quando vi as declarações da personagem, pensei na figura do comentador desportivo que é candidato a Odivelas, o [Fernando] Seara, e descobri que, de facto, [André Ventura] é um comentador desportivo do Benfica, é um daqueles 'paineleiros', que têm a pior profissão do mundo. São aquelas pessoas que fazem populismo desportivo, alimentando o ódio desportivo. Quando essa personagem tenta fazer um discurso politico sério, não dá. Não dá para confiar”, argumenta.

Para Henrique Raposo, o mais grave nas declarações de André Ventura são aquelas em que "tenta fazer a defesa da prisão perpétua", falando nisso "de passagem de delinquentes e ciganos".

Considerando "muito injusta a ideia de que só os ciganos é que enganam o Estado, quando toda a gente em Portugal tenta enganar o Estado", Henrique Raposo lembra que as críticas ao rendimento mínimo foram "bandeira de Paulo Portas durante anos" e questiona: " Porque é que o Paulo Portas pode e este rapaz não pode?"

"Eu nunca votei no Paulo Portas enquanto ele manteve esta bandeira do Rendimento Mínimo, porque é injusto e estigmatiza as pessoas", aponta.

As mulheres ciganas aos olhos da "elite cosmopolita"

Para Henrique Raposo, a maior fonte de preocupação na comunidade cigana está no papel das mulheres. "Há muita hipocrisia na elite cosmopolita em relação à condição feminina das ciganas", critica.

"O feminismo ocidental, neste caso o feminismo português, que fica indignado quando o Papa erra numa vírgula num discurso sobre mulheres, não diz nada sobre a condição das mulheres ciganas. Miúdas que têm de casar com o rapaz que o pai escolheu, miúdas que não podem estudar…", acrescenta.

Jacinto Lucas Pires queixa-se de que este assunto "só aparece em altura de eleições" porque "há questões a resolver, nomeadamente de integração", na questão cigana. Contudo, "não é assim que se resolvem, através de muros, ódio, desconfiança e discriminação".

"Este candidato falou em barril de pólvora, mas ele é que traz o barril de pólvora para chamar a atenção sobre si próprio", acusa Lucas Pires.

Na mesma linha, Henrique Raposo nota: "O problema existe e nós, do centro – comentadores, políticos, etc. – durante quatro anos, entre os actos eleitorais, não reagimos aos problemas".

"O politicamente correcto não ajuda a enfrentar estas questões", acrescenta Jacinto Lucas Pires.

Sobre os efeitos deste episódio nas contas eleitorais, Lucas Pires considera que "este populismo em zonas onde, de facto, há questões, ligado ao mediatismo de uma pessoa como esta, pode conseguir votos". "Espero que não, mas desconfio que sim", sintetiza.

Indignações selectivas

Henrique Raposo lembra factos ocorridos em Loures, em 2008, quando "houve um grande caso de violência entre negros e ciganos, na Quinta da Fonte, na Apelação".

"Na altura, o presidente da câmara, o Carlos Teixeira, que era do PS, fez um discurso denunciando pessoas que não pagam a renda das casas, não pagam em luz… Falou em 150 mil euros de contas da água que as pessoas não pagavam. Esse discurso não é anticigano, não é racista, trata-se de exigir que as pessoas cumpram as regras", declara Raposo. "Num tempo em que a população tem de pagar contas, em que perde a casa para o banco, as pessoas vêem ao lado a impunidade de uma comunidade e isso, claro, gera tensão."

"Há 15 dias, um eurodeputado do PS [Manuel dos Santos] usou o termo 'cigano' como insulto, visando uma deputada do PS. Não aconteceu nada, não houve este incêndio mediático. O Arménio Carlos chamou 'escurinho' àquele senhor da troika que vinha cá todos os 15 dias e um deputado do PS chamou 'africanista de Massamá' a Passos Coelho, numa piadola à mulher de Passos", lembra Henrique Raposo. E conclui: "Só há estas indignações – e devemos tê-las porque é justo – quando é com alguém da direita."

Comentários
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  • Luis Ribeiro
    25 jul, 2017 Faro 03:00
    Retenho a expressão "nem só os ciganos enganam o Estado". Olhando para a mesma, fica-se logo com a sensação que apesar de admitir a existencia de outros que enganam, parece que para alguns o cerne da questão são os ciganos. Meus amigos, para quem ainda não reparou não foram os ciganos que "estouraram" com 13 Mil Milhoes dos 73 Mil Milhoes que a Troika colocou em Portugal. Foi a Banca. Para quem ainda não reparou, os Fundos Comunitarios que foram dolosamente utilizados em Portugal na decada de 90 foram dolosamente utilizados pelo sector empresarial e empresarios para exibiçao de luxo e riqueza. Para quem ainda não reparou, não foram os ciganos (ditos) que estouraram com creditos dolosos instituiçoes como BPN, BANIF ou BES! Infelizmente muitos utilizam a imagem da etnia, que tem as suas caracteristicas umas mais discutiveis que outras, para criar um estigma, um clima de perseguiçao por mero racismo e xenofobia aos quais estes dois interlocutares não escapam. Ser "cigano" digamos, é esconder que o centro da questão são os ditos cavalheiros de colarinho branco, cheirem eles a perfume seja na banca, no mercado de capitais, nas privatizaçoes, nos Planos de Repatriamento de capitais, nas Operaçoes Furacao ou Montebranco. Ora vejam se perseguem estes da mesma forma que a etnia cigana? Claro que não. Sabem porque? Porque vivem deles!
  • Antônio Ximenes
    22 jul, 2017 Barcelos 01:23
    Eu pergunto ao André ventura porque é que não nus dá trabalho porque somos ciganos sou todos humanos eu estou a procura de trabalho eu vou a vário sítio e dizem que não tem ! porque somos ciganos é rascimo em qual a você .
  • Pedro
    21 jul, 2017 viana 21:19
    Mais vale cair em graça do que ser engraçado, as pessoas parece que vivem no mundo da fantasia, tem medo das realidades, quando alguém aparece a dizer uma verdade é crucificado por ser realista e ter coragem de expor um problema não circunscrito só a uma etnia, mas sim a muita gente da sociedade que se habituou a viver à custa dos outros (parasitas).
  • Lino
    21 jul, 2017 19:35
    Deixando de parte simpatias partidárias (nem eu sendo do PSD), as palavras do Sr. André Ventura talvez pequem apenas por generalizar e englobar todos os ciganos. Admito que haja alguns (ciganos) que sejam honestos e nem queiram fazer parte de todo o grupo que se aproveita dos benefícios que a sociedade tem para proteger quem tenha necessidade, por desemprego ou por doença. Ora no meu ponto de vista há que ter a frontalidade de dizer o que muitos de nós achamos e vimos no dia a dia. Ou seja um aproveitamento total destes benefícios e não querendo por outro lado contribuir de alguma maneira.... Não trabalham, ou se trabalham não fazem descontos de maneira alguma, sempre que possível tudo de contrabando, casas de renda em função do rendimento que têm, ou seja, nenhum... rendas pagas pelo estado, não pagam luz, ou este é também subsidiado, o mesmo se passa com o gás.... as câmaras que façam as obras que arranjar as ditas casas... e ainda têm rendimento mínimo.... Só que é vê-los de BMW, Audi ou Mercedes na porta de casa e nas feiras ondem vendem os perfumes, sapatilhas. calças e outros bens "todos de marca".... E ainda se acham vítimas !!!!!! Mais uma vez, afirmo, que admito haverem exceções. Há que ter a frontalidade de discutir e verificarem as situações sem receio de serem acusados de tudo. Sr. André Ventura "tiro-lhe o chapéu" pela sua coragem.
  • JÁ SEI!!!!!
    21 jul, 2017 GODIM 19:33
    Sem dúvida alguma o " SENHOR ANDRÉ" disse o que os parasitas da politica (Esquerda)não gostam de dizer , mas pensam. Não resido em Loures, mas sinto que esta HOMEM ´e vem capaz de pôr as coisas no devido lugar se ganhar as eleições.
  • jacc
    21 jul, 2017 evora 19:17
    Andre Ventura não disse nenhuma mentira, creio não ser racista mas foi de certeza oportunista/populista ao utilizar a comunidade cigana para angariar vantagem politica. tal como Henrique raposo que escreveu sobre os alentejanos conhendo os beneficios para venda o seu livro na altura a "coorperativismo" defendeu que era liberdade de expressão tinha o direito de escrever o que bem entendesse.Este Andre Ventura ja nao tem o mesmo direito. O mesmo esquema utilizado um para votos outro para beneficios monetarios Haja pachorra para tanta HIPOCRISIA O estudo e lindo quantos são???? entre 12.000 e 32.000
  • pedro
    21 jul, 2017 lx 19:11
    Está em curso uma estratégia bem montada para criar e empolar o racismo como assunto e dar-lhe centralidade como facto político, em toda a linha da frente. Anda a dar jeito que assim seja. E está tudo a ir atrás da conversa. Os cidadãos são todos iguais perante a Lei e é nos termos da Lei que quer os direitos, quer os deveres, devem e têm de ser igualmente exigidos a qualquer cidadão em território nacional.
  • Carlos Moreira
    21 jul, 2017 Luanda 19:02
    Continue André Ventura. Chame os bois pelos nomes ... e não tenha medo. Qualquer um pode tentar matá-lo... mas mantenha essa coragem de ser justo e não dê ouvidos a " orquestrações" hipócritas, sejam do CDS ou do Bloco. Há quem queira "torná-lo" racista por afirmar o princípio da igualdade da Lei.
  • Pedro
    21 jul, 2017 Bencatel 18:54
    Nunca votaria em André Ventura, mas que ele tem razão tem. Muitos dos que aqui comentam não vivem perto de comunidades ciganas, pois se vivessem teriam um discurso diferente. Numa cidade do Alentejo, muito famosa pela sua feira semanal de velharias, nada escapa nos quintais, é necessário arranjar mercadoria para vender aos novos proprietários de montes.
  • ze
    21 jul, 2017 lisboa 18:39
    Como se integra na sociedade quem não quer ter deveres só direitos, E quase como por o lobo a alimentar-se de erva. Só falam no que precisam não falam nas habitações que lhe dão agua luz, alimentação, transportes e rendimento de inserção. Bem mais que o meu ordenado mínimo. O presidente da câmara de Loures não é hipócrita como alguns que pensam uma coisa e dizem outra para parecer bem. Integrar na sociedade é muito fácil não é dando casas e dinheiros que se integram as etnias e minorias na sociedade. Mas sim dando-lhes trabalho e eles que façam o que o resto da população faz que e sobreviver com o ordenado e pagar as despesas. Isso sim é integrar, agora o que o governo faz e descriminar dando-lhes tudo acho eu que as pessoas se sintam sem utilidade é descriminar mas e o governo que o faz. Eu quando emigro para outro pais estou lá em minoria e poucos da minha etnia não recebo nenhum subsidio nem casas. recebo é um ordenado e trabalho para me sentir útil e integrado.

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