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"Verdadeira lição" de Pedrógão Grande só se verá daqui a dez anos, diz associação Zero

22 jul, 2017 - 11:44

Dirigente ambientalista Paulo Lucas diz que "morreram pessoas e isso não é explicável só com o fogo", mas admitiu não saber se se aprendeu alguma coisa.

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O incêndio de há um mês em Pedrógão Grande levou a que finalmente houvesse "uma discussão ampla" sobre a floresta, diz a associação ambientalista Zero, mas a "verdadeira lição" só se verá daqui a uma década.

Mais de um mês depois de um incêndio que começou na zona de Pedrógão Grande (centro) que provocou 64 mortes, a Lusa perguntou à Zero se o país aprendeu alguma coisa com a tragédia e se está a tomar as decisões corretas.

Paulo Lucas, que na Zero acompanha a área da biodiversidade, agricultura e florestas, respondeu que, na área do combate ao fogo existiram falhas, pelo que é preciso colocar em dúvida todo o funcionamento do sistema.

"Morreram pessoas e isso não é explicável só com o fogo", mas admitiu não saber se se aprendeu alguma coisa.

Já quanto ao problema estrutural, que é a reforma da floresta, "as coisas estão encaminhadas no bom sentido", porque "finalmente houve uma discussão ampla, que já devia ter sido feita há décadas".

Mas, avisa, a reforma da floresta vai levar anos a surtir efeito, "não basta aprovar uma lei no parlamento". Essa reforma envolve mentalidades, envolve governantes e população, e as lições só serão tiradas daqui a sete ou dez anos.

A floresta, alerta, é desorganizada e lutar contra os fogos é ordená-la, criar locais sem floresta, gerir numa lógica de conjunto "e não de cada terreno um voto", colocar técnicos no terreno. "Era bom que o Governo testasse isso em Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos".

Mas diz também que nada é rápido nem fácil. Reduzir e condicionar a produção de eucaliptos, exemplifica, vai levar a uma pressão da indústria e a um aumento de plantações ilegais, difíceis de fiscalizar.

Para começar, adianta, devia haver planos regionais de ordenação florestal, com uma expressão cartográfica. "É preciso um bom sistema de informação geográfica, o sistema não pode continuar com a opacidade que tem neste momento".

Depois, sobre os incêndios, há muitos trabalhos e estudos que é preciso juntar e articular. Por agora o que sentem Paulo Lucas e a Zero é que "não há articulação, há desorganização".

E não percebe como é que não há planos municipais para fazer face às alterações climáticas, porque é que as pessoas não são informadas e sensibilizadas para estas matérias, porque é que pode haver bocas-de-incêndio nas cidades mas não em espaços rurais.

Aprendeu o país alguma coisa com a catástrofe do mês passado? Pelo menos há uma discussão, diz o ambientalista.

Mas a verdade é que agora, como há um mês, no tema dos incêndios florestais e da luta que é preciso travar "não há articulação nenhuma", está-se "sempre à espera do bombeiro e do helicóptero".

Comentários
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  • Bela
    22 jul, 2017 Coimbra 16:28
    Diz o responsável da ZERO que "não percebe como é que não há planos municipais... que as pessoas não são informadas e sensibilizadas para estas matérias, ..." Parece-me que este senhor desconhece-se a realidade rural, é óbvio que as pessoas estão informadas de muito, só que preferem fazer ouvidos moucos e quanto às bocas-de-incêndio, sinceramente... Mas poucos se atrevem a mencionar que há culpas de muitos. A começar pelos donos dos terrenos, que não se importam de cultivar árvores, sobretudo eucaliptos, até junto à porta. Dizem que é a única fonte de rendimento! Será? Recentemente estive no nordeste do país ( na zona de Bragança) e não vi lá eucaliptos. Vi sim outras espécies, muitas e muitas oliveiras. Ah! E não estavam junto às casas.
  • Fátima Karim
    22 jul, 2017 Setúbal 15:05
    Vai ver-se daqui a dez anos quando os eucaliptos estiverem grandes outra vez. Era bom que as pessoas só falassem daquilo que sabem, e este de florestas nada sabe de certeza absoluta.

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