24 jul, 2017 - 08:18
Numa altura em que a maior parte do país está em situação de seca, a associação ambientalista ZERO diz que que Portugal desperdiça quase toda a água proveniente das estações de tratamento.
Um levantamento feito pela associação revela que apenas 1,2% das águas residuais tratadas nas estações de tratamento (ETAR) é reutilizada.
Estas águas podem ser utilizadas para vários fins, como a rega na agricultura, lavagem de pavimentos e de viaturas, lavagem de contentores de resíduos sólidos urbanos e ecopontos, rega de espaços verdes urbanos e a recarga de aquíferos ou mesmo a reabilitação e criação de zonas húmidas.
Da análise que efectuou aos dados, a ZERO concluiu que, das 265 entidades que têm a seu cargo a gestão de serviços de recolha, drenagem e tratamento de águas residuais, só 23 entidades têm por prática reutilizar as águas residuais tratadas, num total de 7,8 milhões metros cúbicos, a que corresponde 1,2% da água residual tratada em ETAR.
Bom exemplo
Entre as entidades identificadas como mais relevantes no aproveitamento de águas residuais, a Zero destaca a Águas do Algarve, que reutiliza 3,5% das que foram tratadas para lavagem de equipamentos e rega de campos de golfe e outros espaços.
Esta prática é adoptada em 13 ETAR algarvias - Almargem, Vila Real de Santo António, Loulé, Quinta do Lago, Vilamoura, Olhão Nascente, Faro Noroeste, Albufeira Poente, Ferreiras, Vale Faro, Boavista, Silves e Lagos, especifica a associação ambientalista.
Portugal é um dos países da Europa onde o aproveitamento desta água é mais baixo. Na União Europeia são reutilizados anualmente cerca de mil milhões de metros cúbicos, correspondendo a cerca de 2,4% de água residual tratada. É objectivo da UE chegar aos seis mil milhões de metros cúbicos de água residual tratada.
Prioridades
A Zero defende que algumas medidas são prioritárias em algumas bacias hidrográficas, nomeadamente dos rios Leça, Tejo, Sado, Guadiana e das ribeiras do Oeste e do Algarve, que se encontram na categoria de "escassez severa".
Para os ambientalistas, a legislação não é clara relativamente à reutilização de águas tratadas e há um trabalho de regulamentação que o Governo tem de fazer.
“É fundamental haver apoios claros e directos em termos de financiamento ao chamado POSEUR – Programa Operacional para a Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos, onde o objectivo é operacionalizar esta reutilização das águas residuais; há também alguma articulação entre os ministérios da Agricultura e do Ambiente para avaliar e utilizar o potencial de rega de áreas agrícolas promovendo assim a reciclagem de nutrientes que estas águas acabam por ter”, avançou à Renascença Francisco Ferreira, da ZERO.
A análise da associação partiu dos dados disponibilizados pela Entidade
Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR) relativos a 2015.