29 ago, 2017 - 07:49
Fizeram-se mais cirurgias, mas o ano terminou com 211 mil portugueses a aguardar por uma intervenção e com os piores tempos médios de espera desde 2011 – ou seja, mais de três meses.
Os dados são divulgados esta terça-feira pelo “Jornal de Notícias”, que cita o relatório de Acesso aos Cuidados de Saúde de 2016, já entregue no Parlamento.
Segundo o jornal, o tempo de espera dos portugueses por uma cirurgia é o maior dos últimos seis anos, tendo 31 mil pessoas sido operadas fora do prazo. Além disso, quase 15% dos inscritos ultrapassaram os tempos máximos de resposta para cirurgia definidos na legislação.
De salientar ainda os 22 mil doentes que furaram a espera para a cirurgia. No relatório, o Ministério da Saúde admite que o número de doentes inscritos e operados no mesmo dia continua elevado, apesar de estar a baixar desde 2012 (considerado o pior ano).
Segundo o documento, no ano passado foram realizadas 568 mil cirurgias, o número mais elevado desde que existe o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos em Cirurgia (SIGIC, criado em 2004), o que ainda assim não terá sido suficiente para responder ao aumento da procura.
O relatório só não explica porque é que uns doentes passam à frente de outros, furando o critério da prioridade e antiguidade das listas de espera.
Tempos de espera diminuem, mas é preciso dinheiro e pessoas
“O Ministério da Saúde decidiu reduzir o tempo normal de espera por cirurgia dos nove para os seis meses no próximo ano”, anuncia o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares na Renascença.
Aumenta, assim, a “possibilidade de transferência de doentes e de estes terem um acesso mais rápido à cirurgia”, explica, considerando que “este factor vai ter um impacto muito grande na redução” do tempo de espera.
Mas falta mais. “Sem termos um aumento dos níveis de investimento e sem dar autonomia aos conselhos de administração com vista a criar melhores condições de trabalho aos profissionais e mecanismos de motivação, dificilmente conseguiremos responder às necessidades das populações”, cada vez mais crescentes.
Alexandre Lourenço diz que, “ao contrário de outros serviços públicos, os de saúde vão ter cada vez mais procura”, devido ao “envelhecimento populacional, ao aumento das expectativas dos cidadãos e até à tecnologia”.
Por isso, o “aumento do número de doentes em espera resulta também do aumento da procura”.
Ainda assim, destaca, “desde 2010 até agora, aumentámos praticamente em 100 mil doentes operados no [Serviço Nacional de Saúde] SNS”, sendo que, em 2016, os hospitais realizaram “o maior número de cirurgias de sempre”.
Quanto aos 22 mil doentes que furaram a lista de espera foram operados no mesmo dia da inscrição, o presidente dos Administradores Hospitalares diz que representam “4% da actividade cirúrgica”.
“Em muitos casos, os hospitais, para maximizar tempos de bloco, chamam alguns doentes para serem operados no mesmo dia”, explica, adiantando que, nos casos em que tenham havido “ultrapassagem da antiguidade por outro tipo de motivos”, deverão ser “instaurados os procedimentos necessários para encontrar as respostas para isso e, se for necessário, tomar os devidos procedimentos disciplinares”.
No sentido da autonomia dos hospitais, Alexandre Lourenço apoia a criação de centros de responsabilidade integrada, anunciada no início do ano “como uma prioridade” e deseja agora que se encontrem “plataformas de entendimento com os sindicatos e os profissionais, para que [estes centros] sejam uma realidade”.
“Por outro lado, é necessário que existam cada vez mais recursos humanos no sistema. Por exemplo, ao nível da anestesiologia continua a existir uma restrição enorme que limita a capacidade dos hospitais em operar, por falta destes profissionais”, explica.