25 set, 2017 - 22:14
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O berbigão e a lambujinha apanhados no estuário do Tejo, e que vão parar à mesa como petisco, contêm microplásticos, como acrílico, provenientes de lavagens ou restos de roupa, revela um estudo científico divulgado esta segunda-feira.
O estudo, realizado por equipas de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, conclui que, apesar de dimensão muito reduzida, estes plásticos propagam-se na cadeia alimentar, dado que os bivalves que absorvem estes resíduos são ingeridos por aves estuarinas e pelas pessoas.
O coordenador do trabalho, Pedro Lourenço, biólogo do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, disse à Lusa que os detritos, muito embora "mais fininhos do que um fio de cabelo", são muitos, na ordem das 80 mil fibras por metro quadrado na camada superficial de sedimento da qual foram recolhidas amostras para análise, sendo mais abundantes perto de grandes cidades.
Bivalves como o berbigão e a lambujinha, que vivem no fundo do estuário do Tejo, tinham estas microfibras, tal como minhocas, em menor quantidade, e as fezes de aves estuarinas, que comem bivalves, acrescentou o cientista.
Acrílico foi o material sintético mais encontrado, mas também foram detectados poliestireno, também da família dos plásticos, e "celuloses regeneradas", algodão, linho ou cânhamo "alterados quimicamente para se tornarem mais elásticos e resistentes". Todos os materiais entram na composição da roupa.
Os resíduos chegaram ao estuário através de esgotos domésticos, que contêm as águas de lavagens de roupa, ou acumularam-se nos sedimentos fruto de restos de vestuário largados nas margens e que se vão deteriorando lentamente.
Alguns vestígios de 'nylon' das redes de pesca também foram descobertos nas amostras de sedimentos recolhidas nas duas margens do estuário do Tejo.
O estudo detectou igualmente grandes quantidades de microplásticos em sedimentos, minhocas e bivalves não comestíveis em duas zonas costeiras da África Ocidental: Banco de Arguim, na Mauritânia, e arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau.
Segundo Pedro Lourenço, que se tem debruçado sobre a migração de aves entre Portugal e África, trata-se de zonas que, ao contrário do estuário do Tejo, são "afectadas pela poluição de longe".
Os resultados do estudo, divulgados no repositório de artigos científicos de acesso aberto Science Direct, serão publicados na edição de dezembro da revista Environmental Pollution.