23 set, 2017 - 09:28
O relatório das secretas militares, divulgado este sábado pelo jornal "Expresso", elabora três cenários muito prováveis para o assalto ao paiol de Tancos. Estes são vistos como possibilidades muito fortes para o destino que teve o armamento.
O documento aponta para o tráfico de armamento para África, ou um assalto promovido por mercenários portugueses contratados. Há ainda a possibilidade do furto de armas ter como destino os jihadistas islâmicos do auto-proclamado Estado Islâmico.
Neste caso, é dito que o armamento poderá estar ainda em Portugal, guardado para um eventual ataque terrorista em zona turística.
No relatório divulgado pelo "Expresso", mas cuja elaboração data de Julho, a acção do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, é classificada como “ de grande ligeireza, quase imprudente”, sendo-lhe apontadas “declarações arriscadas e de intenções duvidosas” e uma “atitude de arrogância cínica “na condução de todo o processo.
Numa entrevista já este mês ao "Diário de Notícias", o ministro da Defesa afirmou que no limite “pode não ter havido furto nenhum” em Tancos, porque “não existe prova visual, nem testemunhal, nem confissão”.
“Por absurdo podemos admitir que o material já não existisse e que tivesse sido anunciado… E isso não pode acontecer”, disse Azeredo Lopes.
No documento das secretas militares agora divulgado, o Chefe de Estado-Maior do Exército, o general Rovisco Duarte, é acusado de ter assumido a responsabilidade mas não ter tirado as consequências
Antes de ir para férias numa reunião em São Bento, o primeiro-ministro António Costa disse que tinha sido informado do baixo risco do assalto a Tancos, nomeadamente da quase impossibilidade das armas irem parar a uma rede terrorista.
António Costa deu na altura a entender que ficou descansado com as informações que recolheu. Depois da reunião da Unidade de Coordenação Antiterrorista, “onde se fez uma primeira avaliação, verificou-se então que, com grande probabilidade, este acontecimento não teria qualquer impacto no risco da segurança interna, designadamente associação a qualquer risco de actividade terrorista nacional ou internacional”. Costa vincou que “essa garantia” foi-lhe “directamente transmitida pela secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, procuradora Helena Fazenda”.
Os Paióis Nacionais de Tancos foram assaltados no final de Junho. Foram levadas granadas, lança-rockets e explosivos, entre outro armamento de guerra que, segundo o general Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, teria um valor de compra de 34 mil euros. A investigação ao furto está a cargo da Polícia Judiciária e o processo corre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal, estando em causa suspeitas da prática dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo internacional.
Passos fala de tique de autoritarismo
O líder do PSD acusou o Governo de "tiques de autoritarismo" por ocultar ao parlamento informações sobre o furto de material de guerra em Tancos e questionou se o Presidente da República está a par do relatório divulgado.
À margem de um almoço de apoio ao candidato do partido à Câmara Municipal de Marco de Canaveses, José Mota, Pedro Passos Coelho referiu-se ao relatório dos serviços de informações militares hoje noticiado pelo Expresso sobre o furto de armas em Tancos que, segundo o jornal, "arrasa ministro e militares".
"Não sei se senhor Presidente da República está a par do que se passa, mas o parlamento não sabe de nada, temos de comprar o Expresso ao sábado para saber o que se passa com o Orçamento, para saber o que passa com os paióis militares, para termos as notícias que o Governo tem a obrigação de prestar ao parlamento?", questionou.
Passos Coelho lembrou que também já pediu publicamente ao governo a divulgação do relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras sobre a alteração à lei da imigração, até agora sem resposta.
"Viram-no? Eu ainda não vi. Este Governo tem tiques de autoritarismo, é este o nome que temos de dar a estes comportamentos", acusou, defendendo que o Governo tem de prestar informação ao parlamento sobre matérias graves como as que citou.
[notícia editada às 14h13]