03 out, 2017 - 11:34 • Olímpia Mairos
Costuma dizer-se em Miranda do Douro que “L camino de l mirandés fai-se caminando, mas de beç an quando hai que dar saltos” e “fui un grande salto” para o reconhecimento do ensino do mirandês nas escolas do concelho a assinatura de um protocolo entre o município, o Ministério da Educação e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), visando o desenvolvimento de um projecto-piloto destinado ao ensino da língua e cultura mirandesas.
“Trata-se de um protocolo de formação de professores de língua e cultura mirandesa. É um passo em frente na qualidade do ensino, já que há uma parceria com uma universidade e uma vontade de uma escola que tem autonomia para o fazer”, explica a sub-directora geral de Educação, Eulália Alexandre.
Questionada sobre se os professores de mirandês verão o seu trabalho mais reconhecido, a responsável sublinha a importância da “formação em língua e cultura mirandesa”, deixando antever que “haverá procedimentos administrativos que têm que ser trabalhados e tratados com o Ministério da Educação”.
Apesar de o mirandês ser leccionado nas escolas de Miranda do Douro desde 1985, nunca houve, até hoje, formação de professores de língua mirandesa. O director do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, António Santos, diz que essa é uma aspiração antiga e que, por isso, o passo agora dado reveste-se de “muita importância para o agrupamento”.
“O projecto-piloto para o ensino de outras áreas, para além do mirandês, traduz-se num salto em frente em termos da divulgação da língua mirandesa e da protecção do seu ensino nas nossas escolas,” realça António Santos.
O responsável escolar considera que a língua mirandesa começa a atingir alguma “maturidade e reconhecimento” e que estão a ser dados passos seguros para uma “efectivação dos professores de mirandês”.
Para o linguista da Associação de Língua e Cultura Mirandesa José Pedro Ferreira, um dos mentores do projecto, um dos pontos importantes do documento é “o reconhecimento das competências dos professores de mirandês”.
“Há professores de mirandês que ensinam há muitos anos, mas que nunca viram as suas competências reconhecidas. Este protocolo pretende quebrar este ciclo, juntando instituições representativas do Estado português, universidades e administração local e do ensino”, realça o linguista.
Os alunos que estudam mirandês representam 60 % da população estudantil do agrupamento de escolas do concelho.
O dialecto mirandês sobreviveu centenas de anos no isolamento, alcançando, em 1999, o estatuto de segunda língua oficial em Portugal, através da Lei 7/ 99, de 29 de Janeiro, num projecto do então deputado socialista Júlio Meirinhos.