12 out, 2017 - 11:40
Os portugueses apresentam actualmente um nível de carência de vitamina D, que pode ser produzida através do sol, superior às pessoas dos países nórdicos, alertou um especialista em reumatologia da Universidade de Coimbra.
"Não basta estar sol lá fora. É preciso expor a nossa pele ao sol e os portugueses são pouco dados a isso, pois quando está bastante calor tendem a fugir do sol", disse à agência Lusa Pereira da Silva.
O especialista, que integra a comissão organizadora da terceira edição do "Fórum D", que decorre no sábado em Coimbra, salientou que os "nórdicos quando está sol e calor apanham-no, porque sabem que não têm muitas oportunidades".
Já os portugueses, acrescentou, se apanhassem sol com alguma regularidade, dado que o clima proporciona vários meses de exposição solar, "deviam, de facto, ter menos falta de Vitamina D do que esses países".
"O que se passa é que tradicionalmente em Portugal não apanhamos sol nas horas de maior calor, que são aquelas em que o sol é mais capaz de produzir a vitamina D, que é entre as 11h00 e as 16h00, entre Abril e Outubro, e nas quais evitamos fazê-lo", sublinhou.
Uma situação que contrasta com o apelo das autoridades de saúde para que as pessoas evitem a exposição solar naquelas horas, mas que o professor Pereira da Silva considera que a mensagem deveria ser no sentido das pessoas terem cuidado "com a exposição excessiva ao sol".
"A dose necessária [de sol] para produzir a vitamina é muitíssimo inferior à dose necessária para causar uma queimadura ou para aumentar o risco de cancro da pele", frisou o médico.
Segundo o especialista, a falta de vitamina D é diretamente responsável por doenças como a osteoporose, "que já é um problema de saúde pública", e a osteomalacia, consequência directa de falta de vitamina D, o equivalente no adulto ao raquitismo.
"Um estudo indica que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) atende cada ano mais de 10 mil pessoas com uma fratura da anca, o que significa, a preços muito económicos, qualquer coisa como 260 milhões de euros de custos só para tratar estas fraturas, e esse número vai aumentar muito, porque está muito relacionado com a idade", prevê Pereira da Silva.
A osteoporose tem uma "relação muito directa com a falta de vitamina D, pois quem não tiver boa vitamina D não consegue absorver cálcio da alimentação e não havendo cálcio a entrar no sangue o organismo vai buscá-lo aos ossos, enfraquecendo-os".
O especialista em reumatologia disse ainda há uma quantidade enorme de estudos por todo o mundo que relacionam níveis baixos de vitamina D com uma variedade muito grande de doenças, entre elas a diabetes, enfarte do miocárdio, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, certas formas de cancro e de infeção.
Relativamente à relação entre as doenças oncológicas e certos tipos de infecção, o médico considera que a prova "não é absolutamente sólida, pelo que não se sabe se a falta de vitamina D é a causa ou apenas o acompanhante destas patologias".
Contudo, acrescenta, há uma relação muito forte com a longevidade.
"As pessoas que têm níveis mais baixos de vitamina D morrem mais cedo e respondem pior aos tratamentos oncológicos", adiantou o professor da UC, acrescentando que a suplementação é "muito barata e segura" e que muitos países europeus já o fazem na população mais idosa.