16 out, 2017 - 16:02 • Liliana Carona
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Emília Marques, 73 anos, já se ia deitar. Eram 23h30 de um domingo como os outros. ”Ai que estoiro! Parece que se incendiava tudo, foi quando se partiram os vidros da minha janela. Ainda fui chamar pela Laurinda e pelo Fernando, mas não responderam”, interrompe o discurso para limpar as lágrimas.
“Provavelmente, estaria a dormir o casal septuagenário e também uma cunhada. Faleceram. E ainda uma outra senhora, que tentou chegar ao largo do povo e acabou carbonizada”, descreve a moradora de Vila Nova, que não se lembra de um incêndio destas dimensões, naquela freguesia de Ventosa, no concelho de Vouzela.
Isabel Ribeiro, 42 anos, mal encontra palavras para descrever o que viveu. “Foi horrível, desesperante. Estivemos cercados pelas chamas, deitava água com mangueiras a partir do terraço, mas tudo ardia”, conta à Renascença.
João Silva, 11 anos, transporta num carrinho de mão água de uma fonte, porque não há água em Vila Nova, tal como não há electricidade nem comunicações. “Estamos todos sem água, tenho que ajudar. Ontem, foi muito complicado, vi as chamas perto, uma casa explodiu, um veículo rebentou...”, conta o quase adolescente.
Vila Nova acordou cinzenta e com menos gente. E também com animais mortos nos currais e cães carbonizados presos às trelas. Não houve tempo para nada.
As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram mais de 30 mortos e dezenas de feridos, além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas.