16 out, 2017 - 17:13
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O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, alerta para o facto de os “horríveis e criminosos incêndios” que lavram no país e noutras regiões do mundo irão contribuir para o “crescimento da pobreza”.
Na véspera de se assinalar o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, Eugénio Fonseca avisa para as consequências que os incêndios que deflagraram no domingo no Centro e Norte de Portugal, que provocaram pelo menos 32 mortos e mais de 50 feridos, vão ter na população.
“Apesar de ser já bastante a desgraça que está a ser o flagelo dos fogos florestais não podemos deixar de assinalar o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza que, por iniciativa das Nações Unidas”, ocorre na terça-feira, afirma Eugénio Fonseca numa mensagem enviada às redacções.
Mesmo neste contexto – salienta -, “faz sentido dar nota do que está em causa com este dia internacional, até porque estes horríveis e criminosos incêndios – que também estão a ocorrer noutras regiões do mundo irão contribuir - a curto, médio e longo prazo - para o crescimento da pobreza”.
Numa mensagem para assinalar a efeméride, a Cáritas Portuguesa afirma que “não deixará” de atribuir “toda a prioridade” à luta contra a pobreza, que em Portugal atinge cerca de 2,6 milhões de pessoas.
A organização chama atenção para “duas lacunas graves” que “parecem invencíveis” nesta luta: “A recusa de conhecimento corresponsável da pobreza no país” e a “ausência de actuação sistemática nas suas causas”.
“Estamos no ano 2017, o cristianismo existe há cerca de 2000 anos, o tema dos pobres é central na mensagem cristã. Pois, mau grado tudo isto, as instituições e comunidades cristãs procedem como se não conhecessem os pobres existentes em cada localidade e no país”, afirma na mensagem.
Mas – lamenta - este “desconhecimento” verifica-se na generalidade das outras instituições, bem como no meio académico, no Estado central e nas autarquias locais.
“Quase toda a gente atribui enorme relevância às estatísticas de base científica, sobre a pobreza, difundidas regularmente, o que é ótimo”, considera.
Porém o que acontece, em geral, é que “vão aproveitando esse conhecimento para ‘ignorar’ a pobreza que está a seu lado, o enorme esforço diário dos pobres e de quem os ajuda, o risco de inviabilidade económica de inúmeras instituições e a corresponsabilidade da sociedade civil, da economia, do Estado”, salienta.
Para a Cáritas, a publicação, “deveras meritória”, da Carta Social, no âmbito do Ministério da Solidariedade, constitui “um exemplo bem significativo destas omissões”.
“Figuram, na Carta, abundantes dados sobre as diferentes respostas sociais, mas falta a referência às listas de espera, às necessidades não atendidas por respostas adequadas, à sustentabilidade efectiva das respostas existentes”, sustenta.
Também “a própria Assembleia da República” não cumpre as resoluções que adoptou, em 2008, com vista ao “acompanhamento da situação de pobreza em Portugal, e tendo em conta que ela ‘conduz à violação dos direitos humanos’”.
“Numa leitura optimista, dir-se-á que existe hoje uma consciência generalizada acerca da injustiça da pobreza e do imperativo da sua erradicação, em contrapartida, escasseiam a consciência colectiva e a acção consequente”, remata a organização no comunicado.