17 out, 2017 - 20:32 • Filipe d'Avillez , Eunice Lourenço
Veja também:
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que os mais de 100 mortos na sequência dos incêndios de Pedrogão e do último fim-de-semana são "um peso enorme” na consciência e no seu mandato presidencial. O Presidente salientou que a moção de censura apresentada pelo CDS implica uma clarificação por parte do Parlamento e pediu um “novo ciclo”, avisando que é preciso identificar o quê e quem melhor serve esse ciclo.
Numa comunicação à nação, feita esta terça-feira à noite a partir de Oliveira do Hospital, onde se encontra a visitar alguns dos locais mais afectados pelos fogos, Marcelo Rebelo de Sousa começou por dizer que é “antes de mais uma pessoa” e sublinhou que "por muito que a frieza destes tempos convidem a minimizar ou banalizar estes mais de 100 mortos" é necessário "olhar para as pessoas em carne e osso", dizendo que é isso que tem tentado fazer nas suas visitas às vítimas e familiares.
Reconhecendo que estes mais de 100 mortos pesam na consciência, Marcelo disse ainda que os encara como "um desafio" e insistiu que muitas pessoas "ficam fragilizadas" com estas tragédias. Mas, entrando na segunda parte do discurso, em que falou como Presidente, disse que esses mais de 100 mortos também “são uma interpelação política”.
A “última oportunidade”
Sem nunca referir qualquer pessoa em concreto, Marcelo insistiu na linha da fragilização dos poderes públicos que "exige uma resposta rápida e urgente" sem esperar por novas catástrofes.
"Pode e deve dizer-se que esta é a última oportunidade para levar a sério a floresta e convertê-la em prioridade nacional, com meios para isso, se não será uma frustração nacional. Se houver margens orçamentais, dê-se prioridade á floresta e aos fogos", pediu, num claro recado ao Governo e aos partidos, numa altura em que se discute o Orçamento do Estado para 2018.
Para o Presidente é tempo de o Governo tirar “todas as consequências da tragédia de Pedrogão” e avançar para reformas com base nos relatórios que já saíram sobre Pedrógão Grande, sobretudo com base no relatório da Comissão Técnica Independente. E, acrescentou, nessas consequências é preciso não esquecer o que aconteceu nos últimos dias.
Sem nunca se referir diretamente à ministra da Administração Interna ou a qualquer outro responsável, o Presidente pediu um “novo ciclo” deixou implícita a mudança de caras ao dizer que é preciso identificar “o quê, quem, como e quando melhor serve esse novo ciclo”.
Marcelo referiu-se mesmo à a moção de censura que o CDS anunciou esta tarde, salientando que tal iniciativa implica que “a Assembleia da República soberanamente clarifique se quer ou não este Governo”. Se a moção for aprovada, avisou o Presidente, "evita-se um equívoco”, mas se for recusada isso pode ser lido como um reforço da legitimidade do Governo.
O Presidente defendeu ainda que as vítimas dos incêndios merecem um pedido de desculpa. "A melhor, se não a única forma de pedir desculpa a vítimas – e de facto é justificável que se peça desculpa – é reconhecer com humildade que portugueses houve que não viram no Governo o garante da segurança", referiu.
"Para mim, como Presidente, o mudar de vida é um dos testes do mandato que assumi e nele me empenharei até ao fim desse mandato. Impelem-no milhões de portugueses, mas sobretudo os mais de 100 que tanto esperavam da vida no início do verão de 2017 e não chegaram até hoje", afirmou ainda o chefe de Estado.
Ao mesmo tempo em que Marcelo Rebelo de Sousa falava, um grupo de centenas de pessoas concentrava-se junto ao Palácio de Belém, em protesto contra os líderes políticos e em solidariedade com as vítimas dos incêndios que nos últimos dias fizeram 41 mortos e 69 feridos, dos quais 14 em estado grave.