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Relatório de 2009 antecipou cenário de 2017. Ex-ministro Rui Pereira está "de consciência tranquila"

23 out, 2017 - 14:26 • André Rodrigues

Um relatório da Beighley Consulting, que deu entrada no Parlamento em 2009, admitia como provável que, nos 10 anos seguintes, os incêndios pudessem consumir 500 mil ou mais de floresta no espaço de um ano.

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O antigo Rui Pereira diz-se "tranquilo e de consciência tranquila" quanto à sua actuação enquanto ministro da Administração Interna.

O antigo responsável da tutela no governo de José Sócrates responde desta forma a um relatório da Beighley Consulting, que deu entrada no Parlamento em 2009, e que admitia como provável que, nos 10 anos seguintes, os incêndios pudessem consumir 500 mil ou mais de floresta no espaço de um ano.

Questionado pela Renascença sobre uma eventual quota de responsabilidades, Rui Pereira diz ter tomado "as medidas necessárias à data" para contrariar a previsão dos técnicos.

"Reforcei o sistema de Protecção Civil, com mais companhias de bombeiros profissionais, com mais equipas de intervenção permanente nos concelhos, com competências reforçadas dos governadores civis", extintos pelo governo precedente. "Isso foi um erro", sugere Rui Pereira que, dessa forma, conclui que não foi por inacção sua que o país assistiu este ano ao quadro de devastação que tinha sido antecipado em 2009.

Apontar o dedo? "Era o que me faltava"

Questionado sobre a responsabilidade de governos anteriores - em particular o que precedeu António Costa -, Rui Pereira diz que "isso não é comigo, é com os órgãos fiscalizadores da acção executiva, desde logo, os deputados na Assembleia da República. Não me peça para apontar dedos. Era o que me faltava!", remata.

Dispersão no combate é cara, insuficiente e ineficaz

O documento da Beighley Consulting, uma consultora norte-americana, refere que o dispositivo de combate disperso entre Comando Nacional de Protecção Civil, GIPS e Afocelca - a estrutura profissional de prevenção de fogos - é mais dispendioso e ineficaz do que uma estrutura unificada de comando.

No entanto, Rui Pereira considera que a criação de um instrumento desse género "é algo com que as estruturas da Protecção Civil não simpatizam muito, porque pensam que é uma estrutura hierárquica paralela".

O ex-ministro da Administração Interna reconhece que, quando estava em funções "dava alguma atenção e crédito a esse argumento" que, de resto, prevaleceu na reforma da Protecção Civil em 2006.

"Hoje tenho grandes dúvidas", sublinha. "Porque a estrutura dos bombeiros é fragmentária e os últimos acontecimentos provam que essa estrutura fragmentária beneficia se, de futuro, houver uma estrutura hierárquica de bombeiros".

"Sempre tive reservas quanto ao SIRESP"

O relatório da Beighley Consulting antecipava em 2009 as insuficiências reveladas pelo sistema de comunicações de emergência.

Os técnicos consideravam que o SIRESP "potenciava erros humanos, más interpretações e tempo excessivo na resposta e no tratamento da informação para abordar as ocorrências".

Mas também aqui Rui Pereira adopta um discurso cauteloso. Começa por referir que "não foi claro que o Estado tenha sido devidamente salvaguardado no contrato do SIRESP", mas, ao mesmo tempo, não responsabiliza António Costa pelas insuficiências do sistema.

"O ministro que me precedeu renegociou o SIRESP, firmou o modelo mas tudo isso vinha de uma negociação anterior que não foi tão transparente quanto devia".

Perante a insistência da Renascença sobre a competência de António Costa para salvaguardar o interesse público na renegociação do SIRESP, Rui Pereira diz que "agora seria fácil fazer uma avaliação prognóstica" a tudo o que aconteceu.

Já quanto às anomalias do SIRESP que teve de enfrentar enquanto titular da Administração Interna, Rui Pereira explica que "sempre que isso aconteceu, as insuficiências eram pontuais e foram todas reportadas à sociedade SIRESP. O que aconteceu este ano foi um colapso do sistema. E tem de ser investigado", conclui.

Comentários
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  • João Antunes
    23 nov, 2017 Braga 22:11
    Boa noite, o meu comentário nada tem a ver com a noticia acima descrita, mas sim com as declarações do Dr. Rui Pereira onde diz que as POLICIA MUNICIPAL não é uma policia, aconselho o veemente a ler a lei, e depois utilizar algum tempo de antena que dispõe para retificar tais declarações, pois põe em duvida a autoridade das polícias perante o cidadão... considero tal afirmação muito grave, ainda sendo estas proferidas por um ex, ministro, ou então tudo o que se tem dito em colóquios e fóruns é tudo uma farsa ... um bem haja!!!
  • Ao por aqui se vê
    24 out, 2017 St 11:01
    Essas associações deveriam ser feitas a alguns media e opinadores de serviço, que nos andaram a manipular e a atentar a inteligência, porque não havia alternativas. Esses para si não são "Goebells"?...Cure-se!
  • Ao fernando ruivo
    24 out, 2017 Lx 10:53
    Pois é! O que não houve foram fogos das dimensões dos deste ano nem condições climatéricas de seca extremas, nem terroristas incendiários se movimentaram tanto! Porque será que estiveram mais sossegados?...teoria da conspiração ou querem fazer-nos de estupidos? Com certos comentários se vê como funciona a propaganda Passista acolitada pelos CDS de democracia hipocrita.
  • La Palice
    24 out, 2017 Parede 01:19
    É só espertalhões! É fácil fazer contas e depois apresentar estudo a parecer génio. Acompanhem o raciocínio: há um fogo, logo árvores são repostas. Deixar crescer, digamos prá i uns 10 anos, até ter um tamanho razoável,, que seja valorizável e rentável vender. Depois vem outro fogo, a madeira queimada até serve para uso de produção menos nobre e sempre se poupa no custo do arranque dos côtos porque o Estado paga a tragédia e o lucro especulativo ameniza a coisa. Ganha o intermediário especulateiro (o produtor nã vê nada, só geme para se ver livre do carvão) mas é um grandecíssimo negócio para o dito inter vendedor e para comprador, sim senhor.! Voilà, adivinha-se que após 10 anos, seja provável haver outro fogo. É fácil parecer técnico (gandas bruxos) ao pacóvio. As vidas perdidas? Isso não interessa nada aos egoístas gananciosos. O BMW, as casas de férias, as viagens ao estrangeiro, os prémios de desempenho, as subidas das ações em bolsa, o status de empresário bem-sucedido é que conta! Agora é só correr as localidades à vez, agora aqui onde há arroz 10 anos houve fogo, para o ano ali, que ardeu há prá i uns 10 anos atrás, e assim... lá vamos cantando e rindo, levados, levados sim., lá lá lá, Viva Portugal!
  • Por aqui se vê
    24 out, 2017 Lisboa 00:19
    ... Como "trabalha a propaganda socialista nos comentários. Goebells era um menino".
  • 23 out, 2017 22:52
    Relatório em inglês ... era para inglês ver !? A pergunta é: temos políticos atentos e esclarecidos? Prudentes e previdentes? Ou pervertidos a seitas de globalistas, europeístas e trafegantes ?
  • Maria S. Martins
    23 out, 2017 Lisboa 21:26
    Aos caluniadores de serviço, o ministro Rui Pereira faz o que fazia antes. Dá aulas, comenta temas de segurança e nem ele nem a família têm cargos ou benesses do Estado
  • Fernando Ruivo
    23 out, 2017 Lisboa 20:47
    Entre 2007 e 2011 a proteção civil funcionou. Havia meios aéreos - 6 helicópteros pesados e 4 aviões, para além dos meios leves. Havia coordenação política distrital e operacional competente. Houve sempre pré-posicionamento dos meios necessários. A partir daí, foi sempre a descer. A cada qual as suas responsabilidades, sem esquecer a Agricultura e o Ambiente. O resto, é a estratégia do polvo: deitar muita tinta para não se perceber nada.
  • 5 anos de governo
    23 out, 2017 lx 19:53
    a partir de 2011, o relatório foi engavetado! Para além de destruírem tudo o que era publico, porque havia Estado a mais e era preciso empobrecer o país, de acabarem com os governos civis, com os sapadores florestais, com centenas de serviços do ministério da agricultura, de deixarem na gaveta os investimentos para atualizações do Siresp, e muitas outras medidas de diminuição da "despesa" (confundiram despesa com investimento), o que fizeram? ZERO! Claro que as consequencias estão agora aí! Afirmam que não! E infelizmente ainda há umas mentes que acreditam! A hipocrisia no seu melhor!
  • Rui
    23 out, 2017 Portugal 15:51
    Os que morreram também têm consciência tranquila!!!!!

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