24 out, 2017 - 23:08
O futuro da sobrevivência de uma missão a Marte poderá passar por usar plasma, estado da matéria semelhante ao fogo, para aquecer o ar irrespirável do "planeta vermelho" e criar oxigénio, descobriu uma equipa científica internacional liderada por portugueses.
O investigador Vasco Guerra, do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear, associado ao Instituto Superior Técnico, disse à agência Lusa que o método consistirá em aplicar "campos eléctricos" ao ar de Marte, que é 96% dióxido de carbono, e dividi-lo em monóxido de carbono e oxigénio, conseguindo criar ar respirável em ambientes fechados.
A carga a levar por uma missão espacial a Marte seria assim drasticamente reduzida, com a capacidade quer de criar ar respirável quer combustível para a viagem de regresso.
"Já existe um trabalho, uma linha de investigação" que usa os plasmas, um estado da matéria que consiste em gases ionizados, ligados ao trabalho sobre as alterações climáticas, para usar o dióxido de carbono atmosférico na criação de combustível.
Vasco Guerra salientou que a tecnologia descrita pela equipa no trabalho do Técnico, Universidade do Porto e École Polytechnique de Paris não visa tornar a atmosfera de Marte respirável em grande escala, mas criar condições de habitabilidade para astronautas em recintos fechados e criar uma "bomba de gasolina" no planeta para poder ser usado na viagem de regresso dos astronautas.
Em Marte, ocorrem naturalmente as condições que na Terra têm que ser recriadas artificialmente para os plasmas de baixa temperatura poderem ser usados para decompor o dióxido de carbono.
Para além da atmosfera rica em dióxido de carbono, o ambiente frio, de cerca de 60 graus centígrados negativos, e a baixa pressão atmosférica, 150 vezes inferior à da Terra, favorecem a transferência de energia necessária para criar plasma.
Na bagagem, os astronautas de Marte teriam de levar painéis solares, recipientes para armazenar oxigénio e um reator de plasma para conseguir a decomposição do dióxido de carbono.
Vasco Guerra afirma que a investigação não se debruça sobre as aplicações terrenas da tecnologia, mas adiantou que poderia ser usada de forma mais imediata na estação espacial, para criar condições de habitabilidade.
A equipa tem "uma convicção muito grande" de que a tecnologia resulta e o próximo passo será contactar as empresas e agências espaciais empenhadas em ir a Marte para lhes apresentar o seu método, indicou.