08 nov, 2017 - 11:30 • Olímpia Mairos
Na urgência do hospital de Chaves, Sandra Tavares, 38 anos, médica especialista em medicina interna, acaba de fazer 24 horas de serviço: entrou às 8 horas de terça-feira e saiu às 8 horas desta quarta-feira.
“É assim uma vez por semana”, afirma a médica, explicando que “há uma escala, em que cumprimos 12 horas de urgência e, geralmente, mais 12 horas em regime extraordinário”.
Durante as 24 horas de serviço, a médica é responsável pelos doentes de medicina interna que estão internados no OBS, com uma lotação de 11 camas, pela sala de emergência e admissões do foro médico e ainda assegura as emergências ou as situações de descompensação no internamento, quando já não há colegas no internamento.
“Aqui não se pára”, diz a médica por entre alguns sorrisos. Em média quando faz urgência atende entre 40 a 50 pessoas.
“Este hospital convive com os problemas da interioridade, com uma população envelhecida, que traz atrás de si mais comorbidades, portanto, com mais compensações, mais frequentes e graves e, portanto, o recurso ao serviço de urgência é bastante acentuado”, conta.
Diferenças entre ser médica no interior ou no litoral
A médica realça que “outro problema é que as equipas de trabalho não têm o reforço que deveriam ter e, portanto, individualmente há sempre mais trabalho, quer a nível de enfermagem, quer a nível médico”.
Sandra Tavares já prestou serviço no litoral e a experiência diz-lhe que ser médica no interior é bem diferente.
“Temos que fazer e perceber um bocadinho de tudo e isso, às vezes, não é muito fácil. Temos de transferir bastantes doentes, o que não é como chegar ali e pedir um apoio e subir ou descer um andar, o que acresce carga de trabalho”, exemplifica.
A médica Sandra Tavares, que também é a directora do serviço de urgência da unidade hospitalar de Chaves, nota que no serviço nunca houve grandes problemas. “Geralmente o trabalho é bastante pacífico. Muito trabalho, em termos de carga de trabalho e horária, sim, mas, em termos de relações humanas, funciona bem”.
Nesta conversa revela ainda que desde que iniciou funções como responsável pela urgência, verifica-se uma melhoria, mesmo ao nível de queixas efectuadas. “Tem reduzido bastante. Temos meses em que não há sequer. E, muitas vezes, as queixas são por tempos de espera, que às vezes nem se justificam”, garante.
“Trabalha-se bem no interior. É preciso é ter algum estofo. Bem, mas muito”, conclui Sandra Tavares que só ao fim de 24 horas de serviço vai poder descansar.
Os sindicatos médicos que promovem a greve que decorre desta as 00h00 desta quarta-feira revelaram que a adesão ao protesto é maior do que a registada nos anteriores e mostraram-se disponíveis a novas formas de luta.
O protesto é marcado pelos dois sindicatos médicos, que se dizem "empurrados para o mais forte grito de protesto", depois de um ano de "reuniões infrutíferas no Ministério da Saúde".