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​2017. O ano em que dissemos adeus a Mário Soares e Zé Pedro

28 dez, 2017 - 13:10 • Ricardo Vieira , Carlos Calaveiras

Da política aos negócios, da Igreja às artes, o ano de 2017 assistiu à morte de personalidades que ajudaram a moldar a história portuguesa das últimas décadas.

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O ano de 2017 começou com a morte da maior personalidade política das últimas décadas em Portugal. Inimigo da ditadura de Salazar, amigo da liberdade, co-fundador do PS e da democracia nacional, primeiro-ministro, Presidente da República, Mário Soares morreu a 7 de Janeiro.

O pai da descolonização e da adesão à então CEE, que marcou a política portuguesa antes e depois do 25 de Abril, tinha 92 anos.

Mário Soares. Uma vida em campanha pela democracia
Mário Soares. Uma vida em campanha pela democracia

No dia seguinte ao desaparecimento de Mário Soares, morreram Daniel Serrão, médico, professor, especialista em ética da vida e apaixonado por pessoas, aos 88 anos, e Guilherme Pinto, presidente da Câmara de Matosinhos.

Morreu Daniel Serrão, um defensor da ética da vida
Daniel Serrão (1928-2017). Um defensor da ética da vida

Dois antigos ministros das Finanças de gerações diferentes morreram em 2017: Medina Carreira (86 anos) e Miguel Beleza (67 anos).

Medina Carreira fez parte do I Governo constitucional, liderado por Mário Soares, e negociou um empréstimo com o FMI. Pessimista ou realista? Nos últimos anos, ficou conhecido pelas críticas ao rumo do país.

Miguel Beleza foi ministro das Finanças no segundo governo de Cavaco Silva, entre 1990 e Outubro de 1991. Impulsionou a criação da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e colaborou no processo de adesão de Portugal à União Económica e Monetária. Depois, foi governador do Banco de Portugal e trabalhou no FMI.

UM PEDAÇO DO ROCK

Portugal perdeu o seu comendador do rock em 2017. Zé Pedro morreu a 30 de Novembro, vítima de doença prolongada. Tinha 61 anos.

Fundou os Xutos & Pontapés, em 1978. Tudo começou com um anúncio (“Baterista e baixista precisam-se para grupo punk”) e o resto é história. Guitarrista, letrista, pioneiro do punk, melómano, comunicador, dinamizador, sem ele a música portuguesa das últimas décadas não teria sido a mesma.

Quando Zé Pedro contou como foi o primeiro concerto dos Xutos
Quando Zé Pedro contou como foi o primeiro concerto dos Xutos

Quem o conheceu de perto, elogia o carisma, o lado humano de um grande amigo e recorda “o sorriso do Zé Pedro”, que deixou hinos como “O homem do leme”, “Não sou o único”, “Submissão” ou “N’América”.

O ano musical também ficou marcado pelas mortes de Daniel Bacelar, o primeiro “rocker” português; José Luís, antigo vocalista dos Ekos; e Cláudio Panta Nunes, violoncelista dos Corvos.

O mundo das artes também chorou a perda dos actores João Ricardo, Fernanda Borsatti e Maria Cabral, e do realizador António de Macedo. Os dois últimos fizeram parte do Novo Cinema português.

José Manuel Castello-Lopes deixou a sua marca nos bastidores do cinema, como empresário e distribuidor. Morreu aos 86 anos.

O biólogo e especialista em oceanografia Mário Ruivo morreu em Janeiro, aos 89 anos. Foi fundamental na definição do tema da Expo'98, os oceanos, coordenando um grupo de peritos criado para o efeito.

AMÉRICO E BELMIRO, CONSTRUTORES DE IMPÉRIOS

Portugal perdeu em 2017 dois empresários que marcaram o mundo dos negócios nas últimas décadas.

Natural de Mozelos, Santa Maria da Feira, Américo Amorim era o homem mais rico de Portugal e fazia parte do “top” 500 da revista Forbes, com uma fortuna superior a 4.000 milhões de euros. Apesar de tudo, não se considerava rico. O “rei da cortiça” jogava em vários tabuleiros. Estendeu a sua actividade à banca, bolsa, casinos, luxo, unidades turísticas e empresas petrolíferas.

Belmiro de Azevedo transformou o Grupo Sonae num gigante. Abriu o primeiro hipermercado em Portugal, com a marca Continente, e diversificou os negócios para as telecomunicações, com a operadora Optimus. Fundou o jornal “Público”, criticava abertamente o poder político e criou uma fundação.

Graça Franco e os tempos do "Público": "Belmiro de Azevedo foi o patrão perfeito"
Graça Franco e os tempos do "Público": "Belmiro de Azevedo foi o patrão perfeito"

BISPOS DO POVO

“Os pobres não podem esperar”, disse em pleno resgate da troika. A preocupação com os desfavorecidos foi uma das marcas do bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, que morreu a 11 de Setembro, vítima de um enfarte. Tinha 69 anos. O Papa Francisco destacou o pastor “afável” e “generoso” numa mensagem lida durante as cerimónias fúnebres.

O rapaz de Cinfães esteve para ser advogado, mas contrariou a vontade da família e foi ordenado padre em 1972. Enquanto bispo auxiliar de Braga, bispo de Aveiro ou responsável pela diocese do Porto, manteve sempre uma ligação de grande proximidade com a comunidade e com os problemas do mundo.

D. António Francisco dos Santos. O bispo do diálogo e "sem planos prévios"
D. António Francisco dos Santos. O bispo do diálogo e "sem planos prévios"

Duas semanas depois, a 24 de Setembro, morreu D. Manuel Martins, aos 90 anos. Natural de Leça do Balio, foi como bispo de Setúbal que se destacou ao alertar para a fome e miséria que assolava a região na década de 80.

O “bispo vermelho”, como ficou conhecido, foi um dos principais responsáveis pela acção que a Igreja Católica continua a ter na região de Setúbal, designadamente no apoio social aos mais pobres e excluídos.

D. Manuel Martins, o bispo dos marginalizados
D. Manuel Martins, o bispo dos marginalizados

Em Abril, o país despediu-se do padre franciscano Joaquim Carreira das Neves. Especialista em estudos bíblicos, professor e autor de várias obras, faleceu aos 83 anos.

Numa entrevista em 2011, falou abertamente dos seus problemas de saúde: “Nós somos um todo, matéria e espírito. Se tivermos boa disposição, se não nos agarrarmos à nossa doença mas nos agarrarmos à vida, com esperança, com fé, mais facilmente se leva a vida”.

ONDE É QUE VOCÊ ESTAVA NO 25 DE ABRIL?

A pergunta era quase uma marca registada de Armando Baptista-Bastos, jornalista e escritor que morreu a 8 de Maio, aos 84 anos.

Começou o percurso profissional no jornal “O Século”, mas foi despedido por apoiar Humberto Delgado. Foi considerado “contumaz adversário do regime” e também foi afastado da RTP. Prosseguiu a carreira em vários títulos, com destaque o “Diário Popular” onde trabalhou durante 23 anos. Passou pela rádio e televisão, onde fez os programas de entrevistas "Conversas Secretas", na SIC, e "Cara-a-Cara", na SIC Notícias.

A 24 de Novembro, morreu outra personalidade marcante do jornalismo e da comunicação nacional. Pedro Rolo Duarte perdeu a batalha contra um cancro, aos 53 anos.

Esteve na fundação da revista “Visão”, foi editor da revista “Kapa”, do suplemento DNA (do "Diário de Notícias"), e do “Independente”. Deixa a sua marca na imprensa escrita, mas também fez televisão e rádio. Em 1984, assumiu, na Renascença, o programa em directo “Sessão da Meia-Noite”, a convite de Rui Pêgo e Henrique Mendes.

Manuela de Azevedo também foi uma pioneira, mas de outra geração. A primeira jornalista mulher a ter carteira profissional em Portugal morreu a 10 de Fevereiro, com 105 anos.

Foi romancista, ensaísta, poeta e contista, tendo escrito também peças de teatro, uma delas censurada pelo regime de Salazar.

O jornalismo desportivo e a Renascença perderam um dos seus repórteres lendários. Joaquim Vieira relatou mais de 20 edições da Volta a Portugal em bicicleta como só ele conseguia, acompanhou centenas de jogos de futebol e deixou amigos por onde passou. Tinha 65 anos.

Morreu o jornalista Joaquim Vieira
Morreu o jornalista Joaquim Vieira

No futebol, 2017 foi o ano da morte de Manuel de Oliveira, aos 85 anos, antigo futebolista, treinador e comentador da Renascença; do antigo árbitro José Pratas, de 59 anos, que esteve em actividade até 2002; de Amândio de Carvalho, antigo vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol; e de Edu Ferreira, jogador do Boavista de 20 anos que lutava contra um cancro.

Boas notícias, más notícias. Um ano bipolar em Portugal
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  • José
    29 dez, 2017 23:50
    O Mário Soares em destaque, é um insulto para todos os outros grandes nomes aqui mencionados no artigo. Ele fui pai da desgraça portuguesa. ele faleceu este ano e nunca mais se falou dele.
  • Zé Pedro
    29 dez, 2017 Safado 14:32
    O Zé Pedro?? Quem é o Zé Pedro?? O Zé Pedro padeiro?? Que eu saiba a minha vizinha ainda não é viúva!!
  • Diogo
    28 dez, 2017 Norte 17:17
    Temos o país que merecemos. Um dos maiores empresários e geradores de riqueza do país do últimos 50 anos fica em nota de rodapé. Alguém que enriqueceu ninguém sabe como, um dos maiores corruptos e arquitecto do sistema de corrupção política que nos assola há décadas, basta ver como reagiu à prisão do Socrates, que em tudo o que tocou só fez asneiras, e principal responsável pelas sucessivas crises que o país atravessou nos últimos 40 anos fica em destaque, enfim.
  • David Picareta
    28 dez, 2017 Porto 14:19
    Mario Soares! "pai da democracia" portuguesa! Llolololololool Já vi melhores anedotas! Agora se me dissesem que ele era o Pai da DEMO-Cracia e um verdadeiro REI-Publicano do interesse proprio! só tenho a dizer estas celebres frases de sua boca democraticamente pura do paizinho da democracia Tuga!!! Nota Historica: 1º "Ó Sr. guarda, desapareça!" 2º "“Calem-me esse filho da…!” As primeiras palavras de Mário Soares num comício no Tramagal " 3º A polémica em torno das acusações das autoridades angolanas segundo as quais Mário Soares e seu filho João Soares seriam dos principais beneficiários do tráfico de diamantes e de marfim levados a cabo pela UNITA de Jonas Savimbi, tem sido conduzida na base de mistificações grosseiras sobre o comportamento daquelas figuras políticas nos últimos anos. 4º etc…etc…etc… Como dizia o outro!!!!! Politicamente Correcto
  • Leonardo
    28 dez, 2017 Porto 14:12
    O título destaca quem deu trabalho a milhares de portugueses? Quem contribuiu significativamente para a riqueza do país? Não! destaca um musico de quem muitos nunca ouviram falar e um politico que morreu deixando uma fortuna dificil de explicar aos filhos.
  • David Martelo
    28 dez, 2017 Beirais 13:52
    Mário Soares = O pai da descolonização!!!...NÃO!!!!!....mas sim um dos mentores de um dos períodos mais vergonhosos e hediondos da história de Portugal, pois à sua responsabilidade e não só, morreram centenas de Portugueses!!! E como é que ele conseguiu reunir todo o património dele???...não foi de certeza com o suor do seu trabalho...,como diz o ditado, o pior cego é aquele que não quer ver...oxalá DEUS lhe dê o que ele na realidade merece!!!

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