15 jan, 2018 - 06:48 • Liliana Carona
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Decorria o torneio anual de sueca na Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha e Ernesto Nunes, de 64 anos, estava a ver futebol no rés-do-chão, quando deu conta de um barulho estranho, vindo do andar de cima.
“Estoirou qualquer coisa. A chaminé terá atingido temperatura a mais e como tinha o tecto falso propagou-se”, conta à Renascença recordando o que se passou naquele trágico sábado, dia 13 de Janeiro.
“Ainda vim buscar uma corda e um jipe a casa para tentar tirar a porta do lado, mas só saiu a parte do vidro, e quando olhei lá para dentro, não vi ninguém de mão no ar e pensei que aconteceu o mesmo que em Alcafache: as pessoas todas empilhadas para saírem. A porta abria para dentro e não para fora e não dava para sair muita gente”, recorda.
Maria Eduarda, 63 anos, “conhecia a Maria Máxima, o Sérgio...”, pessoas que tratava por tu, numa freguesia que diz estar morta.
“A nossa freguesia está morta. Primeiro, os incêndios de Outubro e agora esta desgraça. Não sei o que será”, afirma emocionada.
Com primos a recuperar dos ferimentos no Hospital de Coimbra, Adélia Juncal, 70 anos, sócia da mesma associação recreativa, descreve aquele espaço como a alegria da terra.
“Tenho muita pena disto. Isto era a alegria e distracção das pessoas, fazíamos jantares, convivíamos todos, fazíamos lanches, as festas de Verão, ajudávamo-nos uns aos outros e agora acaba tudo. Que Deus nos dê forças, porque se não só vemos barracos”, pede.
Vila Nova da Rainha está de luto, pintado a negro para onde quer que se olhe. "Já vi muitos fogos, mas como este aqui…ardeu tudo, está tudo negro”, descreve o sócio Ernesto.
A povoação tem 400 habitantes. A Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha foi fundada em 1979 e tem várias dezenas de sócios. No sábado, oito pessoas morreram e outras 38 ficaram feridas na sequência de um incêndio que terá começado numa salamandra. Do total de feridos, 28 estão internados (um teve alta no domingo à tarde) e dois estão em estado crítico.
A 11 de Setembro de 1985, chocaram na Linha da Beira Alta, entre Mangualde e Nelas, um Sud-Express com destino a Paris cheio de emigrantes e um Regional que seguia para Coimbra. A colisão em Alcafache foi o maior acidente ferroviário de Portugal. As estimativas feitas por jornais, observadores oculares e outras fontes variavam entre 40 e 200 mortos.