23 jan, 2018 - 20:04 • Ana Rodrigues
Os pais devem ser o primeiro filtro dos filhos na internet, defende Miguel Raposo, responsável da agência Be Influence, que gere a carreira de mais de 50 "youtubers", entre os quais os populares Sirkazzio, Fer0m0nas ou Wuant.
Deve o YouTube ter mais filtros para as crianças não verem alguns conteúdos? “O primeiro filtro tem que ser sempre os pais terem cuidado com o que eles fazem. Mas não vejo problemas nesse sentido”, diz Miguel Raposo em entrevista à Renascença.
Sirkazzio, Fer0m0nas e Wuant são algumas jovens estrelas portuguesas do YouTube. Têm centenas de milhares de seguidores e ganham dinheiro com isso. Os seus vídeos têm milhões de visualizações e um grande impacto nos mais novos.
Este mês, Ana Galvão, voz da Tarde da Renascença e mãe, publicou um longo texto no Facebook no qual denunciava a existência de “um grupo de 'youtubers', que gravam vídeos sem parar, que têm fãs aos molhos e que, todos os dias, apresentam ao mundo conteúdo falado em mau português, cheio de palavrões, obscenidades, apelo a insultar os pais, e ainda, desafios para as crianças serem rebeldes na escola”. As declarações tornaram-se virais, motivando elogios, críticas e até insultos.
“Os 'youtubers' não querem influenciar ninguém para fazer mal. Só querem entreter”, tranquiliza Miguel Raposo.
Fazem brincadeiras, desafios e produzem outros conteúdos de entretenimento, mas a questão é sempre saber qual é o limite.
Miguel Raposo dá o exemplo de um dos maiores humoristas portugueses e recorda um episódio antigo que marcou a televisão em Portugal.
“Há uns anos, quando foi o último episódio da 'Roda da Sorte', o Herman José levou uma caçadeira e destruiu o cenário num programa de televisão. Ele não estava a dizer às pessoas: ‘vocês façam a mesma coisa, agarrem numa caçadeira’. Estava a produzir um conteúdo que se tornou engraçado para as pessoas consumirem”, sublinha.
O fundador da agência Be Influence refere que os "youtubers" portugueses têm tido mais cuidado com a linguagem, nomeadamente com o uso de asneiras, mas também têm de ser genuínos.
“É inevitável porque na escola a linguagem dos miúdos é muito próxima da deles, por muito que nos custe a nós ouvir os nossos filhos dizer asneiras. Mas o dia-a-dia deles é esse. Os 'youtubers' não fazem mais do que serem eles próprios e é um bocado o que se passa lá fora”, conclui Miguel Raposo.
Bloqueio é "tapar o sol com a peneira"
A questão esteve esta terça-feira em debate nas tardes da Renascença. Os convidados foram Pedro Aniceto, consultor de Tecnologias de Informação, e Rosário Carmona e Costa, psicóloga especializada em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental de Crianças e Adolescentes.
“Ao contrário do que muitos pais pensam e fazem, o bloqueio puro e simples [de conteúdos na internet] é impossível e inútil. É como tapar o sol com a peneira. Há sempre forma de contornar”, afirma Pedro Aniceto.
Rosário Carmona e Costa afirma que “há muitos pais que estão completamente perdidos na forma como os filhos utilizam a internet e os ecrãs em geral” e deixa dois conselhos essenciais: “mediar e conhecer”. “Os pais têm que ser os primeiros mediadores”, sublinha.