29 jan, 2018 - 12:41
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O bastonário da Ordem dos Médicos diz que é preciso mais para fixar médicos no interior do país, nomeadamente nas zonas “mais carenciadas e periféricas”.
“Os médicos que faltam no Serviço Nacional de Saúde não são 100 nem 150, são entre quatro e cinco mil médicos, no mínimo”, começa por dizer.
O Governo decidiu limitar a 150 o número de vagas para médicos que quisessem ir para o interior do país. Os incentivos incluíam um aumento salarial de 40%, mais dias de férias e ainda preferência na colocação do cônjuge num posto de trabalho.
O número de vagas é visto pelo bastonário da Ordem dos Médicos como “uma gota de água no meio do oceano”, mas há mais.
“O plano para captar as pessoas para as zonas mais carenciadas passa, desde logo, por, quando existe a possibilidade de as contratar, elas sejam contratadas rapidamente. Os médicos que terminaram a especialidade em Março/Abril de 2017 ainda não tiveram nenhum concurso para entrar no Serviço Nacional de Saúde, portanto, daqui a pouco faz um ano sem concurso, o que quer dizer que muitos destes médicos provavelmente tomaram outro rumo”, alerta Miguel Guimarães na Manhã da Renascença.
Quanto aos incentivos, o bastonário diz que “a remuneração é apenas uma parcela” do conjunto. Segundo Miguel Guimarães, o Governo ofereceu mais “um ou dois dias” de férias a mais aos médicos que se deslocassem para o interior. “Em França, quando fizeram um plano destes, ofereciam entre 15 e 20 dias a mais”, compara.
Depois, há a questão das condições de trabalho. “Independentemente de ganhar mais 20% ou 30% ou 40%, que pode ser importante também, a verdade é que o médico tem de trabalhar, no sítio para onde for, de acordo com aquilo que esteve a aprender durante os quatro, cinco, seis anos” – ou seja, “ter acesso aos equipamentos, aos dispositivos médicos, aos materiais que são necessários para executar determinado tipo de técnicas, como cirurgias e outro tipo de actos médicos, o que muitas vezes não acontece”.
Neste momento, reforça Miguel Guimarães, “temos deficiências graves, não só de capital humano mas também de equipamentos e de dispositivos, particularmente nas zonas mais carenciadas”.
Por tudo isto, o bastonário da Ordem dos Médicos defende uma estratégia global para estas zonas, que inclua médicos, mas não só.
“Quando queremos, de facto, descentralizar as coisas, quando queremos melhorar a qualidade de vida nas zonas mais periféricas do país, temos de ter um plano global, que o Governo tem de encarar como um todo; que se aplique a um conjunto alargado de profissionais de saúde, que permita desenvolver a massa crítica suficiente para as pessoas gostarem de estar a trabalhar nas zonas mais periféricas”, defende.