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Cancro. “Redução da despesa não pode afetar doentes”

05 fev, 2018 - 10:35 • Rosário Silva

Desorganização e método desajustado. Estas são algumas das críticas dos bombeiros voluntários após o Instituto Português de Oncologia de Lisboa ter mudado as regras do transporte de doentes.

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Em Vila Viçosa nada mudou, desde há quase um ano, altura em que o Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPO) decidiu mudar as regras do transporte de doentes para, desta forma, diminuir a despesa. Os voluntários da corporação calipolense continuam, apenas, a transportar doentes da sua área de intervenção, por considerarem desajustado, o atual método, às necessidades dos utentes, mas também dos bombeiros.

“Quando há mais do que um doente de diferentes concelhos, nós não vamos buscar pois entendemos que não havendo organização, não andamos aqui para nos prejudicarmos, nem a nós, nem ao doente”, explica à Renascença o comandante dos bombeiros de Vila Viçosa, Nuno Pinheiro.

“Os doentes não podem andar para trás e para a frente e tivemos conhecimento, por exemplo, que o ano passado veio uma ambulância de Olhão buscar um doente a Estremoz para ir para Lisboa. Isto não tem lógica”, diz, indignado.

O agrupamento dos doentes, alegadamente, sem ter em conta horários nem distâncias, é o motivo que levou as federações distritais de Évora, Beja e Portalegre a manifestarem-se contra este sistema de transportes, mantendo a decisão de transportar doentes apenas dos seus próprios concelhos, desde que o IPO anunciou a racionalização de recursos.

“É necessário economizar”, admite Nuno Pinheiro, mas “o IPO tem de fazer isso com organização e não sujeitar os doentes a deslocações penosas sem necessidade”.

A poucos quilómetros de Vila Viçosa, em Estremoz, a corporação afina pelo mesmo diapasão. José Pardal, presidente da direção da Associação Humanitária diz que os bombeiros estão disponíveis para negociar uma solução ajustada à realidade do interior.

“Que fique claro, nós estamos dispostos a negociar e a ser parte da solução, mas não nos podem impor uma solução que não é nem rentável para nós, nem devidamente adequada para as pessoas, neste caso os doentes, que servimos”, aponta.

Uma abertura ao diálogo que está dependente, acrescenta José Pardal da “flexibilidade e sensibilidade para com os seus doentes que o IPO deve ter”.

“Medidas economicistas ficam muito mal a quem as faz”

Quase um ano depois das alterações ao transporte de doentes do IPO, o presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Évora (FBDE) confirma à Renascença que “está tudo na mesma”, com o Instituto Português de Oncologia de Lisboa a “agrupar os doentes da forma que bem entende, com horários superiores aqueles que são permitidos por lei.”

Inácio Esperança faz, contudo, um “mea culpa”, uma vez que as federações distritais de bombeiros de Évora, Beja e Portalegre ficaram de enviar, o ano passado, ao presidente do IPO uma proposta para chegar a acordo sobre esta matéria.

“Não conseguimos até agora”, reconhece o responsável, salvaguardando, que “nunca poderão aceitar uma proposta, como está a acontecer, que permita fazer agrupamentos de doentes com horários superiores ao que a lei permite”.

Assim sendo, assegura Inácio Esperança, “cada corporação só transporta doentes do seu próprio concelho”, garantindo qualidade no serviço prestado.

“Nós, bombeiros, garantimos essa qualidade”, afiança o presidente da FBDE. Quanto aos outros transportadores, diz ignorar o que se passa, contudo admite já “ter tido conhecimento de alguns casos em que ultrapassam as quatro cinco horas entre consultas e tratamentos”, coisa que “nós nos recusamos a fazer”, acrescenta.

“As medidas economicistas, neste momento, na saúde ficam muito mal a quem as faz”, considera Inácio Esperança, admitindo total disponibilidade para ajudar o IPO desde que essa “redução da despesa não afete a qualidade do serviço prestado”.

O presidente da federação de Évora dos bombeiros refere, ainda, que o transporte de doentes apenas representa 5% da despesa do IPO, instituto que, segundo este responsável, “deve aos bombeiros desde agosto de 2017”.

“Nenhum transportador aguenta esperar por receber seis, sete meses pelo transporte que faz”, sublinha. “Este deve ser feito com qualidade e pago a tempo e horas no máximo em 60 dias tal como está acordado entre a Liga dos Bombeiros Portugueses e o Ministério da Saúde”, conclui.

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