14 fev, 2018 - 10:48
Mais de metade dos jovens inquiridos num estudo já sofreu atos de violência no namoro e mais de dois terços aceitam como normal algum dos comportamentos violentos na intimidade.
O estudo foi realizado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) ao nível nacional e envolveu perto de 4.600 jovens, com uma média de idades de 15 anos.
"É preocupante" verificar que 68,5% dos jovens (3.186) consideram como natural pelo menos um comportamento violento na intimidade e que 56% dizem já ter sofrido atos de vitimação, indica o inquérito, divulgado esta quarta-feira, Dia dos Namorados.
Analisando os vários tipos de vitimação, o estudo revela que 18% foram vítimas de violência psicológica, 16% de perseguições, 12% de violência através das redes sociais, 11% de situações de controlo, 7% de violência sexual e 6% de violência física por parte de um companheiro ou companheira.
Insultos e interferência nas redes sociais
Na violência psicológica, os insultos são os atos de violência com maior prevalência (29%), seguidos da humilhação e rebaixamento da vítima (15%) e ainda de ameaças (11%).
Na violência através das redes sociais, o comportamento mais frequente é entrar no Facebook ou noutra rede social sem autorização da vítima (20%). Foram também relatadas situações de partilha online de conteúdos íntimos sem autorização (4%).
“Estes comportamentos abusivos online são inquietantes, na medida em que podem tornar-se públicos e eventualmente virais”, consideram os autores do estudo.
"Esta forma de violência têm um potencial de dano muito alto" a que é preciso estar atento, uma vez que se trata de "uma população muito jovem e que estará a iniciar a sua vida íntima e sexual".
Abusos preocupantes
No controlo nas relações de intimidade, a questão mais prevalente foi a proibição imposta à vítima de estar ou falar com amigos (21%).
O comportamento mais relatado na violência sexual foi o de pressionar a vítima para beijar o companheiro/a à frente de outras pessoas (8%), mas 5% disseram ter sido pressionados pelo companheiro para ter relações sexuais – uma percentagem considerada "preocupante".
Também “com uma prevalência preocupante” continua a violência física, tendo em conta a idade dos jovens, com 6% a contarem que foram vítimas de comportamentos físicos abusivos.
Controlo e violência sexual legitimados
Segundo o estudo, o tipo de violência mais legitimado é o controlo (29%), seguido da perseguição (26%), da violência sexual (25%), da violência através das redes sociais (24%), da violência psicológica (16%) e da violência física (8%).
Em todos eles, os rapazes são quem mais legitima a violência, sobretudo a sexual: 34% dos rapazes contra 16% das raparigas.
A legitimação dos comportamentos violentos é também "mais frequente nos/as jovens" que sofreram "atos de vitimação (76,9%)".
Na opinião dos autores do estudo, a legitimação "pode advir" do facto de, na cultura portuguesa, "estes comportamentos não serem considerados violência (apesar de já criminalizados) e serem muitas vezes romantizados".
Comparando com os dados do inquérito do ano anterior, verificou-se uma "ligeira subida" da legitimação e da vitimação da violência, o que indica a "urgência de uma intervenção com os/as jovens, o mais precoce e continuadamente possível", para prevenir "a violência sob todas as formas".
APAV lança campanha sobre violência no namoro
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima apresenta esta quarta-feira uma nova campanha de sensibilização sobre a violência durante o namoro. É dirigida a um público jovem e tem um particular enfoque nas novas tecnologias, tendo sido intitulada “Dá o clique, fala com a APAV”.
A campanha resulta de uma parceria com o Instituto Superior Novas Profissões (INP) e foi desenvolvida por um grupo de alunos do curso de Relações Públicas e Publicidade.
Segundo a APAV, a violência no namoro acontece quando um dos parceiros (ou ambos) recorre à violência com o objetivo de se colocar numa posição de poder e controlo. Pode assumir diferentes formas: verbal, psicológica, física e/ou sexual.
Segundo números do ano passado, as queixas por violência no namoro estão a aumentar.