14 fev, 2018 - 08:09
A Ordem dos Médicos acusa o Governo de ameaçar a saúde dos portugueses ao validar práticas tradicionais chinesas através de uma licenciatura. Admite, por isso, avançar para "formas inéditas" de protesto.
Em causa está a portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da Ciência e Ensino Superior que permite a aquisição do grau de licenciado em medicina tradicional chinesa através de ciclos de estudo.
Na opinião do bastonário Miguel Guimarães, trata-se de uma formação de quatro anos “em práticas que não têm base científica” e que constituem “um perigo para a saúde e para as finanças dos portugueses”.
O representante dos médicos considera mesmo que a validação desta formação pode gerar atrasos em diagnósticos e tratamentos de situações potencialmente graves.
"É importante que a população entenda que estes ciclos de estudo não habilitam à prática da medicina, que é exclusiva dos médicos", destaca, em declarações à agência Lusa.
Na sua opinião, o Governo está assim "a contribuir para um retrocesso sem precedentes" no que é a essência da fundamentação científica de investigação e na evolução da inovação tecnológica e terapêutica própria da medicina.
"É uma atitude irresponsável", critica, prevendo desde já um aumento “brutal” da publicidade enganosa, “legalizada pelo ministro da Saúde”.
O ministro Adalberto Campos Fernandes introduz assim "mais um fator de agravamento no desconforto e descontentamento dos médicos", acrescenta, anunciado que se irá reunir com a comunidade médica para decidir "formas inéditas" de manifestarem o seu "profundo desagrado".
A criação do ciclo de estudos em medicina tradicional chinesa é, para a Ordem, uma forma de "induzir as pessoas em erro, criando licenciaturas em terapêuticas que não têm a devida fundamentação científica".
O bastonário afirma não estar a criticar as práticas tradicionais chinesas, mas diz que necessitam de uma investigação científica profunda e de uma regulação, que não significa a criação de licenciaturas.
Miguel Guimarães avisa que a portaria publicada na semana passada pode mesmo pôr em causa as relações institucionais entre a Ordem e o Governo.
"A Ordem fica totalmente legitimada para liderar um processo de oposição firme de todos os médicos a uma política de saúde patológica que não serve os doentes", refere, indicando que a posição foi aprovada com total consenso pelo conselho executivo da Ordem.