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A mina a céu aberto de que ninguém fala

20 fev, 2018 - 09:29 • Liliana Carona

Está a motivar polémica a mina de urânio a céu aberto que pode ser instalada em Espanha, perto da fronteira com Portugal, mas a futura mina de Retortillo não é caso único.

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“No a la mina, Si a la vida” é a frase que se lê por todo o lado, inscrita nas paredes a tinta preta ou branca. Espanha pretende criar em Retortillo, Salamanca, uma mina a céu aberto, mas a plataforma Stop Urânio chama a atenção outra nas mesmas condições, em Saelices el Chico, Cidade Rodrigo, que desde 2000 aguarda a concretização do seu encerramento.

Esta mina de Saelices el Chico situa-se a 10 quilómetros de Portugal, enquanto a de Retortillo fica a 40. E situa-se, ironicamente, paredes meias com uma estação termal frequentada por dezenas de turistas, na sua maioria portugueses. Ali próximo está o restaurante “Casa Blanca”, gerido por Eugenia Gonzalez, que trabalhou toda a vida junto às termas Baños de Retortillo, onde o negócio já conheceu melhores dias.

Desde a primeira autorização de exploração da mina pela empresa australiana Berkeley, em 2014, que Eugenia Gonzales, de 71 anos, viu o negócio piorar de dia para dia.

“Cortaram 2.300 azinheiras sem permissão. Vivi aqui a vida toda tranquila, os balneários cheios de gente, sempre a trabalhar e agora não, não durmo tranquila, por causa da mina”, desabafa à Renascença, deixando um alerta aos portugueses: “Este rio [Yeltes] vai desaguar a Portugal”.

O Yeltes desagua no Huebra, um afluente do Douro em Espanha, que Nuno Pereira, da plataforma Stop Urânio, diz ser contaminado por uma mina a céu aberto e que está há mais de dez anos para encerrar.

“Um caso de saúde pública”

“Estamos em Saelices El Chico, em linha reta a 10km da fronteira. É uma mina desativada de urânio, mas eles continuam a tirar o urânio empobrecido, com vários poços a céu aberto. Há muita contaminação que sai diretamente para o rio Águeda, que vai desaguar no Douro”, conta Nuno Pereira à Renascença.

“Um caso de saúde pública”, denuncia. “O leite destes animais é exportado para Portugal, são animais que pastam em terra com urânio. Já não falando da nova mina que querem abrir. Esta mina é muito mais urgente e cada vez aparecem mais casos de cancro”, alerta.

“É uma mina a céu aberto que está em tratamentos para encerrar, mas nunca mais encerra. Continuam cá os depósitos de água, tudo a céu aberto”, insiste durante a visita àquele espaço.

Do lado de Portugal, a maioria dos moradores do concelho de Almeida desconhece a polémica em torno das minas. Sabe apenas que a poucos quilómetros há as termas de Retortillo. Entre “eu não quero falar e eu não sei”, Carlos Sardinha, 58 anos, admitiu que só hoje leu no jornal: “é a primeira vez que oiço falar disso”.

Já Abel Pires, 59 anos, faz termas em Retortillo há muitos anos. “Sei que estão as termas em Retortillo, já fiz tratamento naquelas águas quentes, fazem muita falta”, salienta.

E é nas termas de Retortillo que Eugenia Gonzalez teme perder o trabalho de uma vida. Tudo, diz ela, porque o dinheiro fala sempre mais alto. “Aqui, sabe o que se passa? Têm muito dinheiro e dão-no em envelopes aos autarcas. O dinheiro consegue tudo”, conclui.

Para sábado está já marcada uma manifestação em Salamanca, promovida pela plataforma Stop Urânio, contra a instalação e exploração da mina de urânio em Retortillo.

Para sábado está já marcada uma manifestação em Salamanca, promovida pela plataforma Stop Urânio, contra a instalação e exploração da mina de urânio em Retortillo.

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