13 mar, 2018 - 07:25
Mais de metade das linhas de comboio está em mau estado. Um relatório da Infraestruturas de Portugal revelado esta terça-feira pelo jornal “Público” mostra que quase 60% das vias férreas portuguesas têm desempenho medíocre ou mau.
O pior troço está entre Ovar e Gaia, onde a Infraestruturas de Portugal constata a necessidade de “intervenção urgente”. O relatório, datado de maio de 2017, atribui a este troço a classificação de 1,9 (mau) numa escala de 1 a 8 e diz que “a vida útil dos ativos neste troço da Linha do Norte há muito que foi excedida e qualquer tipo de intervenção de manutenção produz efeitos pouco duradouros”.
Com má classificação aparecem também os troços o Tua-Pocinho (linha do Douro) e a via estreita de Espinho a Oliveira de Azeméis e de Aveiro a Sernada do Vouga.
Todos os troços que aguardam por modernização são classificados como medíocres e foi neles que aconteceram os descarrilamentos dos últimos anos – sobretudo, na Beira Alta, “que tem metade do seu percurso classificado como medíocre”, escreve o “Público”.
Na rede suburbana, Lisboa aparece com pior classificação do que o Porto, com o relatório a destacar as linhas de Cascais e a da Cintura (Alcântara Terra-Braço de Prata) como medíocres.
Com a mesma classificação aparecem o ramal de Tomar, a linha do Algarve entre Lagos e Faro e a da Beira Baixa, entre Entroncamento e Sarnadas (Vila Velha de Ródão). Para qualquer destes troços, o indicador de desempenho é sempre inferior a 3,2.
O que leva a maioria das vias a ser classificadas como “más” ou “medíocres” são problemas com os carris, as travessas e o balastro. Componentes como túneis, pontes, catenária, sistemas de sinalização, agulhas e estruturas de proteção parecem estar em melhor estado.
Cortes orçamentais e uma fusão polémica
O relatório divulgado pelo “Público” refere que o estado dos caminhos-de-ferro portugueses “tem correlação direta com a existência de um passivo de renovação ou défice de conservação”, o que decorre das restrições orçamentais impostas às empresas públicas durante os anos da “troika”.
A manutenção foi descurada e houve linhas em que a própria conservação da via foi reduzida abaixo dos mínimos, escreve o jornal, lembrando os anúncios de “modernizações sucessivamente adiadas, que tornavam racional a decisão de não fazer manutenção pesada quando se espera um investimento de substituição”.
Aos cortes orçamentais junta-se a falta de pessoal, depois de algumas rescisões e redução de trabalhadores, o que leva a uma perda de “know-how”.
“A opção pelo ‘outsourcing’ fez com que hoje haja poucos operários de via, especialistas e até engenheiros com experiência no terreno. As obras são agora feitas por empreiteiros sem conhecimento das especificidades da ferrovia, a que se soma, por vezes, uma deficiente fiscalização”, revela o jornal.
A Infraestruturas de Portugal é uma empresa pública que resulta da fusão entre a Rede Ferroviária Nacional (Refer) e a Estradas de Portugal (EP) – decisão que não tem reunido consenso e, de acordo com o “Público”, terá contribuído para reduzir ainda mais o “know-how” ferroviário.
O jornal diz que Governo e empresa pública agem como se não houvesse polémica e lembra que, “em matéria ferroviária, todos os assessores do ministro e do secretário de Estado da tutela provêm da Infraestruturas de Portugal”, não existindo ninguém da parte da CP “para dar a visão do lado dos operadores”.