16 mar, 2018 - 09:46 • Liliana Carona
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Passam no sábado cinco meses desde que o pastor Abel Pimenta e a família perderam a casa, no concelho de Gouveia. O contentor para onde se mudaram tem agora uma cozinha improvisada e uma parede de blocos de cimento para o resguardar do frio.
A cozinha e o cimento são a única diferença no “albergue”, passados cinco meses dos incêndios de outubro, altura em que o pastor recusou abandonar a propriedade, ficando a viver num contentor que tinha adquirido para a colocação do leite das ovelhas e cabras.
A mulher de Abel, Fernanda, e a filha menor já vivem numa casa cedida pelo presidente da junta de Vinhó, mas Abel continua no contentor, num espaço onde cabe uma cama, e mal.
“Uma vida muito pobre. É lamentável não ter mudado nada desde os incêndios de outubro. Toda a gente vê da estrada a minha casa: está tudo parado e o que mais aborrece é que com os prejuízos do gado, o rendimento é nenhum”, denuncia.
Abel diz que há duas semanas que toma medicamentos, “estava a ver que morria com uma pneumonia, não imagina o frio que passo aqui”, conta à Renascença, interrompido pela esposa Fernanda: “As pessoas não sabem o que é passar aqui cinco meses, isto nem é vida”.
Abel Pimenta, de 54 anos, diz que o município de Gouveia o apoiou na compra de chapas de zinco para os abrigos dos animais, além de fardos de palha, mas o pastor reivindica apoios para a reconstrução da casa. Os do Estado chegaram, mas num montante que diz não ser suficiente para começar as obras necessárias.
“Da candidatura ao apoio direto de cinco mil euros, recebi 3.200 euros que não deu para nada, porque estou à espera que venha o resto. Eu preciso do meu cantinho arranjado. Preciso de ser apoiado e isto só não dói às pessoas que estão no poder; se fosse um familiar deles, eu já não estava aqui”, considera.
Fernanda Pimenta, de 53 anos, vive com a filha de 13 anos numa casa cedida temporariamente pelo presidente da Junta de Vinhó e entende a decisão do marido de não querer deixar o que resta da propriedade consumida pelas chamas.
“Como há de fazer? Ele tem que tomar conta do que é nosso, mas isto nem é vida”, conclui.