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Seca

Chuva "não chega para colmatar necessidades hídricas" do país

18 mar, 2018 - 09:18

Especialista em recursos hidricos diz que a situação de seca no país está melhor, mas ainda longe de estar resolvida especialmente no sul.

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O investigador Pedro Teiga, especialista em reabilitação de rios, considera que a chuva tem melhorado a situação de seca no país, no entanto, só por si "não é o suficiente para colmatar as necessidades hídricas", principalmente na região sul.

"Se olharmos para os campos, vemos como já estão verdejantes e a responder positivamente a estas chuvas, [com alguns rios] que podem entrar em situação de cheia e causar inundações", indicou à Lusa o investigador do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), da Universidade do Porto.

Contudo, o engenheiro ambiental acredita que os "cenários problemáticos" vão continuar caso a utilização da água a nível doméstico, industrial e agrícola se mantenha igual à do último ano, o que não permitirá criar os armazenamentos necessários para os diferentes usos, que são crescentes.

"O grande problema não é a seca em si, mas sim os padrões atuais de utilização e as pressões" exercidas sobre os cursos de água, frisou, acrescentando que "um agricultor vai continuar a regar o seu campo de milho, quer se esteja em situação de seca ou em cenário de escoamento normal de água".

O volume de água que "vai utilizar para ter produtividade é que terá impacto no rio", esclareceu.

Segundo o investigador, os rios têm capacidade de responder naturalmente aos períodos de seca, assim como as espécies autóctones estão, de uma forma geral, prontas para se adaptarem às variações de caudal, encontrando abrigo em pequenos núcleos de água.

O problema, no entanto, surge quando esses núcleos são utilizados para a agricultura ou para sistemas industriais, ficando a balança do equilíbrio hídrico "altamente descompensada", com "consequências graves nas espécies ribeirinhas".

"Existem várias espécies de peixes e de macroinvertebrados a morrer ao longo das margens dos rios, devido ao stress hídrico e à falta de água, que este ano se fez notar não só a meio da encosta, mas também nas galerias ribeirinhas", contou.

Contornar a seca

Pedro Teiga disse que, apesar de contribuir para contornar a situação de seca no país - enchendo açudes e albufeiras -, a água das chuvas não deve ficar retida somente nesses locais, sendo também necessária para aumentar o caudal dos rios, responsável pela limpeza desses recursos.

"As descargas de poluição - que ocorreram muitas vezes em período de verão e em períodos de seca - e as pequenas lamas que ficam no fundo dos leitos precisam levantar e entrar na corrente, para que o rio faça o seu transporte, distribuição e autodepuração ao longo de todo o seu trajeto", desde a nascente até à foz, referiu o engenheiro ambiental.

O especialista está atualmente envolvido na reabilitação de rios em diferentes zonas do país, nomeadamente em Pedrógão Grande (distrito de Leiria), um dos locais atingidos pelos incêndios do ano passado.

Das diferentes ações, destacou o controlo das espécies invasoras e a recuperação das galerias ribeirinhas, retirando o material queimado e estabilizando as margens dos rios e o domínio hídrico, através de técnicas de engenharia natural.

Para o investigador, é importante identificar os focos de atuação imediata, trabalhando em conjunto com os proprietários dos terrenos, que, na sua opinião, devem ser envolvidos no processo.

O engenheiro ambiental salientou ainda a necessidade de uma manutenção constante e da continuidade deste trabalho por parte dos proprietários, a par dos municípios.

"A boa notícia", avançou, é que, de uma forma geral, "as cinzas acumuladas nas margens dos rios nos locais dos incêndios não estão a chegar às linhas de água, o que acaba por ser ótimo porque não se acumulam nos açudes".

Com as intervenções de reabilitação, Pedro Teiga espera evitar que essas cinzas cheguem às linhas de água e alterem a sua qualidade, em termos químicos e físicos.

Comentários
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  • Vasco
    19 mar, 2018 Santarém 22:32
    Só que possivelmente o senhor Pedro Teiga especialista em reabilitação de rios não vê neste momento rios a transbordar como o Alviela por exemplo com uma enorme nascente onde toda a água vai parar ao oceano sem qualquer utilização, noutro país com mais visão da realidade certamente esta água e a de outros rios do país já teriam neste momento caminho directo para as barragens alentejanas e estas estariam agora a transbordar de água, quanto ao Tejo transformado sobretudo aqui em Portugal em cano de esgoto terá que ter outro futuro sem contaminação, ser desassoreado e com barragens para armazenar água para que de Verão não pareça um ribeiro e para que essa água tenha utilidade para os agricultores pois é daí que vem a paparoca para os meninos da cidade que por vezes até poderão pensar alguns deles de que tudo aquilo é criado lá nas bancadas dos hipermercados onde compram os produtos. Como a memória dos portugueses parece ser curta receio que este bom tempo de chuva faça uma vez mais esquecer a todos a seca e que toda a água que corre para o mar não é um desperdício e que para a próxima seca que há-de vir a situação seja ainda mais drástica.
  • Eborense
    18 mar, 2018 Évora 13:05
    Tem toda a razão no que diz, mas os políticos incompetentes e lobistas que temos, começando pelo tacanho do Ministro da Agricultura não vêm isso. Não faz sentido produzir culturas como o arroz e o milho em Portugal, devendo sim apostar-se em cereais de outono-inverno (trigo, cevada, triticale, aveia) regados no final do ciclo, em rotação com culturas como o girassol, a colza, etc. Estas culturas são essenciais e necessitam de 1/10 da água das mencionadas anteriormente. Em vez disso e ainda para acrescentar maiores gastos de água, estão a instalar-se milhares de hectares de amendoeira no Alentejo, em que cada hectare desta cultura gasta em média 4 mil metros cúbicos de água. Vamos pagar tudo isto bastante caro, a curto prazo, mas quando isso suceder, o Sr. Ministro já estará aposentado com uma reforma choruda, a qual pagará a sua incompetência.

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