20 mar, 2018 - 18:15
Havia capacidade para antecipar incêndios de outubro, "mas isso não foi feito", afirma o presidente da Comissão Técnica Independente para a análise dos fogos. João Guerreiro entregou esta terça-feira, no Parlamento, o relatório com as conclusões da investigação realizada pelos peritos nos últimos meses.
A Comissão Técnica Independente (CTI) concluiu que falhou a capacidade de "previsão e de programação" para "minimizar a extensão do incêndio" na região centro, que fez 48 mortos.
"Era possível encontrar soluções prévias de programação e de previsão que pudessem ter amenizado o que foi a expansão do incêndio", afirmou João Guerreiro, em declarações aos jornalistas, no Parlamento.
Para presidente da CTI, apesar de se estar em outubro, fim da época de incêndios, havia possibilidades de minimizar os efeitos dos incêndios, a 14, 15 e 16 de outubro de 2017.
Um fogo impossível de dominar
Apesar de admitir que, "a partir de certa altura, não era possível dominar aquele incêndio", João Guerreiro advertiu que havia "instrumentos e capacidade para minimizar aquilo que foi extensão do incêndio", sublinhando existirem previsões meteorológicas a alertar para condições de temperatura elevadas e vento.
Questionado sobre se existiram ou não falhas das autoridades no combate às chamas, como foi indicado no relatório quanto os incêndios de junho, em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, o presidente da comissão não foi explícito, mas admitiu que as considerações feitas se mantêm.
"Muitas das recomendações [relativas os incêndios] de Pedrogão, voltam a repetir-se neste relatório", afirmou, sublinhando que "muitas das considerações estão vigentes".
João Guerreiro relembrou que a estrutura da Proteção Civil, depois alterada, era ainda a mesma dos acontecimentos de Pedrógão, entretanto alterada após a vaga de fogos do ano passado que fizeram mais de mortos.
O relatório foi entregue, pouco depois das 17h30, pelo presidente da comissão e ex-reitor da Universidade do Algarve, numa audiência com o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues.
O discurso da inevitabilidade
O discurso da inevitabilidade estava errado. A conclusão é da associação de vítimas dos incêndios de outubro depois de ler o relatório da comissão de peritos. O presidente Luís Lagos reitera a necessidade da aplicação de medidas urgentes e lamenta o discurso oficial logo após a tragédia.
"A mensagem pública que foi posta a correr foi da inevitabilidade, que não houve nada a fazer, e eu acho que essa é a mensagem errada. Até o próprio relatório diz que falhou o SIRESP, a Proteção Civil e outro conjunto de medidas de proteção as pessoas", avança o presidente da associação de vítimas dos incêndios de outubro.
"O país não precisa de uma mensagem de resignação, precisa de uma mensagem que indique que o que se passou não volta a acontecer em Portugal", remata.
[notícia actualizada às 21h43]