10 abr, 2018 - 14:50 • Pedro Mesquita
O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João, António Oliveira e Silva, considera que os utentes - e ele próprio - estão a ser maltratados pelo Governo, que tarda em disponibilizar a verba necessária para a construção de um Centro Pediátrico novo.
Em entrevista à Renascença, após a imprensa divulgar que há, por exemplo, crianças a receber tratamento oncológico nos corredores do hospital, António Oliveira e Silva admite que as atuais instalações - provisórias - são indignas, em particular no serviço de Oncologia Pediátrica.
A situação, diz, é lamentável e Oliveira e Silva não esconde a irritação.
Como é que olha para a situação descrita na imprensa sobre as condições em que as crianças recebem tratamentos no Hospital de São João?
Classifico esta situação como lamentável a todos os títulos. Isto não é uma perspetiva reativa em relação a uma noticia. É antes uma posição que o Centro hospitalar já tomou há bastante tempo, e tem vindo a assumir reiteradamente.
Porque é que isto não se resolve? Porque é que há crianças, nomeadamente, a fazer tratamento de quimioterapia nos corredores?
Isso não é a situação habitual. Pode ser sido uma situação pontual, admito que por sobrelotação momentânea das instalações, mas não é a regra. O que é regra são as más condições de atendimento à criança.
E porque é que não se resolve?
Não se resolve porque temos um projeto para fazer um Centro Pediátrico novo, que espera por financiamento da tutela. Está há 10 ano sem instalações provisórias. Há um ano foi assinado um protocolo no sentido de libertar essas verbas, que até ao momento não foi possível cumprir.
Porquê? Ainda hoje o ministro disse que está para breve.
Pois, eu ouço esse "está para breve" já alguns meses. Eu não sei exatamente porquê. Falam-me em condições administrativas burocráticas. Não estou nos meandros da tutela e, por isso, não consigo perceber. O que sei é que o dinheiro não está disponível, nem sei quando estará.
Noto alguma irritação da sua parte. Sente-se maltratado pelo Governo?
Mais do que eu, as crianças, os seus familiares e os profissionais sentem-se maltratados pelo Governo, claro.
O senhor também...
Eu também.
Admite por o seu lugar à disposição?
O meu lugar está sempre à disposição.
Mas admite, perante esta situação, colocar - de facto - o seu lugar à disposição?
O meu lugar, como disse, está sempre à disposição. estes lugares estão sempre à disposição da tutela. No dia em que entenderem que a pessoa que está à frente da instituição não cumpre o que lhe é exigido, logicamente que a substituem. Quando eu entender que não tenho mais condições para permanecer à frente do Centro Hospitalar de São João, obviamente que renunciarei ao lugar.
Acredita que ainda tem condições, perante esta situação que o senhor classifica de indigna há tanto tempo, e continua a arrastar-se?
Quero acreditar que sim.